A “Qualidade de vida” é subjetiva e multidimensional, englobando aspetos positivos e negativos da vida. É uma condição dinâmica que responde aos eventos da vida: a perda do emprego, doença ou outras convulsões podem mudar a definição de “qualidade de vida” de uma forma bastante rápida e dramática.
Muitos fatores podem influenciar a qualidade de vida de uma pessoa, tanto dentro quanto fora de seu controle direto. Esses fatores variam de pessoa para pessoa, de lugar para lugar e mudam com o tempo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, não apenas a ausência de doença …”. Segue-se que a medição da saúde e os efeitos dos cuidados de saúde devem incluir não apenas uma indicação das mudanças na frequência e gravidade das doenças, mas também uma estimativa do bem-estar e isso pode ser avaliado medindo a melhoria na qualidade de vida relacionada aos cuidados de saúde.
Embora existam geralmente formas satisfatórias de medir a frequência e gravidade das doenças, este não é o caso no que diz respeito à medição do bem-estar e da qualidade de vida. Por outras palavras, a Qualidade de Vida é entendida como a perceção que a pessoa tem sobre a sua posição na vida, quer do contexto da cultura e dos sistemas de valores em que vive, como em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.
É por isso considerado um conceito amplo, afetado de forma complexa pela saúde física, estado psicológico, crenças pessoais, relações sociais e a sua ligação com as características salientes do seu meio ambiente.
Dizer-se que se tem qualidade de vida, como vimos, não implica só estarmos “de bem com a vida”, mas sim, um estado muito mais profundo de equilíbrio entre as diferentes partes que a compõem.
A Qualidade de Vida Difere de Pessoa para Pessoa?
Os valores de cada pessoa, vão sem dúvida ter uma grande influência sobre aquilo que se considera como qualidade de vida. Por exemplo, para algumas pessoas ter um bom carro, é para si importante no que concerne a ter uma qualidade de vida satisfatória. Para outras pessoas, o carro que se tem é irrelevante desde que não dê grandes problemas, podem considerar que a qualidade de vida passa por não ter problemas financeiros e ter uma família com quem partilhar momentos agradáveis.
Como Medir a Qualidade de Vida?
Este é um aspeto controverso, pelo fato deste conceito ser bastante subjetivo, conseguindo levar a que um mesmo resultado possa ter interpretações diferentes. No caso da “medição” de qualidade de vida, importa compreender que esta incorpora um conjunto complexo de sistemas, que se influenciam mutuamente:
1) Saúde física: Energia e fadiga, Dor e desconforto, Dormir e descansar.
2) Saúde Psicológica: Imagem corporal e aparência, Sentimentos negativos, Sentimentos positivos, Auto estima, Pensamentos, aprendizagem, memória e concentração.
3) Autonomia (nível de Independência): Mobilidade, Atividades do dia a dia, Dependência de substâncias medicinais e auxiliares médicos, Capacidade de trabalho.
4) Relações sociais: Relações pessoais, Suporte social, Atividade sexual.
5) Ambientes: Recursos financeiros, Liberdade, segurança física e proteção, Saúde e assistência social (acessibilidade e qualidade), Ambiente familiar, Oportunidades para adquirir novas informações e habilidades, Participação e oportunidades de recreação / lazer, Ambiente físico (poluição / ruído / tráfego / clima).
6) Espiritualidade / Religião / Crenças pessoais: equilíbrio.
Qualidade de Vida VS Felicidade
A falta de consenso teórico leva muitas pesquisas a utilizarem conceitos como saúde, bem-estar e estilo de vida como sinônimos de qualidade de vida. Além disso, qualidade de vida é um aspeto fundamental para se ter uma boa saúde e não o contrário como muitas vezes é interpretado, sendo que o mesmo acontece com o termo “Felicidade”.
Como vimos, diversos indicadores “objetivos” e “subjetivos” são também frequentemente relacionados com os conceitos de liberdade, direitos humanos e felicidade. No entanto, como a felicidade é subjetiva e difícil de medir, outras medidas geralmente têm prioridade. Desta forma a felicidade, não é o mesmo que qualidade de vida.
Legenda: Modelo em Degraus para a pessoa aproveitar as possibilidades importantes da vida
Diferentes aspetos que definem a qualidade de vida são apresentados na literatura, como, por exemplo, poder aproveitar as possibilidades da vida, de escolher, de decidir e ter controle de sua vida. Assim surge o Modelo em Degraus sobre as possibilidades importantes da vida:
– SER: é entendido como o que o ser humano é, resultado da sua nutrição, aptidão física, habilidades individuais, inteligência, valores, experiências de vida.
– Pertencer: trata-se das ligações que a pessoa tem em seu meio, casa, trabalho, comunidade, possibilidade de escolha pessoal de privacidade, assim como da participação de grupos, inclusão em programas recreativos, serviços sociais, etc.
– Tornar-se: remete à prática de atividades como trabalho voluntário, programas educacionais, participação em atividades relaxantes, oportunidade de desenvolvimento das habilidades em estudos formais e não formais, dentre outros.
Colocando agora em prática as ideias apresentadas…afinal, como anda a sua qualidade de vida? É aquilo que esperava? Quais os pontos que gostaria de melhorar?
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Fontes: WHOQOL: Mesuring Quality of Life (2020); Forbes: Quality of Life – Everyone wants it, but what is it? (2013); Pereira, E., Teixeira, C. & Santos, A. (2012). Qualidade de Vida: abordagens, conceitos e avaliação, UESC/Sociedade Educacional de Santa Catarina.
Filomena Conceição - Psicóloga 