Muitos são aqueles que se identificam com esta expressão. A sensação de perda de controlo é imensa se pensarmos o quanto nos esforçamos para tapar de um lado, mas acabando por destapar de outro. Isso é o que acontece em muitas das relações, quer sejam profissionais ou amorosas. É impossível agradar a todos ao mesmo tempo, porém podemos maximizar a nossa atenção para os pontos mais importantes.
Gerir a vida diária entre trabalho e família não é fácil, mas porque é que algumas pessoas conseguem e outras não? Porque será que algumas conseguem sempre ajustar o seu lençol de maneira a nunca deixarem nenhuma parte a descoberto, ou pelo menos fazem-nos acreditar que isso é possível.
Agendas preenchidas e muita dinâmica de vaivém, não é necessariamente algo de negativo na nossa vida se soubermos gerir a passagem de um momento para o outro. Há quem tenha imensa dificuldade em ajustar a sua rotina com o seu trabalho, outros aprendem a geri-lo tão eficazmente que ainda lhes sobra tempo para mais alguns prazeres da vida. Mas como é isso possível?
Quando atribui mais tempo e mais atenção ao seu trabalho, com prazos para cumprir e objetivos por satisfazer certamente terá a sensação que está a puxar o seu lençol para esta matéria, parecendo descurar o outro lado onde se encontra eventualmente a sua família e os amigos. Quando está de volta a esse outro lado, a tendência é querer compensar o tempo ausente ou a falta de atenção dedicada e começasse assim um novo ciclo de puxar o lençol para tapar. Aqui o tempo parece andar sempre acelerado e não permitir ter momentos de pausa e lazer no conforto do lar, mas isso não é verdade.
Desafio a começar por um pequeno exercício de introspeção: quando está com a sua família, quanto tempo está efetivamente 100% focado e dedicado a ela? Atenção!..aqui não conta o tempo a ver televisão, a consultar o seu email ou simplesmente a interagir nas redes sociais enquanto se estica no sofá. O que quero que avalie verdadeiramente é quanto tempo está totalmente envolto numa tarefa familiar, seja num passeio, numa conversa com os seus filhos ou numa atividade social com eles? Se formos analisar concretamente vamos ter mais noção que perdemos muito tempo com coisas que se sobrepõem. Muitas vezes estamos fisicamente presentes, mas totalmente alienados a eles, pois há algo que captou a nossa atenção em primeiro lugar e isso é uma mensagem que passa para os outros como desprezo, indiferença ou distanciamento.
O mesmo pode acontecer no contexto profissional. Podemos ter uma sensação ao final do dia que trabalhámos imenso e resolvemos um conjunto de tarefas, contudo desafio-o a realizar o mesmo exercício e contabilize, quanto tempo gastou e quantas vezes interrompeu uma tarefa para atender uma chamada de alguém menos importante e menos urgente, ou ainda, quantas vezes entrou numa conversa cruzada com colegas sem que tivesse algum ganho direto na sua tarefa?
Não somos máquinas e muito menos somos capazes de funcionar eficazmente nesse caos constante. É preciso definir prioridades e atribuir-lhe a importância devida consoante a nossa matriz de objetivos. Se o meu objetivo for dedicar-me mais tempo à minha família, não basta estar mais tempo em casa. É preciso envolver-me em atividades, estando presente e participando eficazmente nelas, relacionando-me emocionalmente com os seus elementos e ajustando as minhas expectativas às minhas necessidades.
É por isso que em determinadas famílias, a época de férias de verão pode ser um desgaste imenso nas relações, pois os seus diferentes elementos não estão preparados para conviver conjuntamente durante vários dias, pois na sua rotina normal simplesmente não o fazem. Sair da rotina é fundamental, mas faze-lo com essa exigência emocional não é benéfico para todos.
Filomena Conceição - Psicóloga 