O desenvolvimento humano passa por inúmeras fases. Começamos por descobrir o mundo, aprender a conhecê-lo e a nós próprios. Redescobrimos, numa fase mais madura formas diferentes de olhar para as mesmas coisas, redefinimos prioridades e tomamos decisões. Muitas decisões, nem sempre sabendo se elas serão as melhores. Atingimos um desgaste e vamos assistindo a alguma deterioração mental própria da idade.
Ao longo do crescimento pessoal, por causas diversas, algumas pessoas ficam mais expostas a determinadas situações e desenvolvem perturbações que provocam um eminente sofrimento mental e emocional. Dentro dessas inúmeras perturbações encontra-se a depressão.
Embora seja muito mais regular ouvirmos falar nela na etapa adulta, ela também existe na fase infantil e mais tarde no idoso. Apesar de não gostar particularmente da aplicação da palavra idoso, neste propósito, parece-me mais vantajoso usá-la, ainda que não me identifique propriamente com o que ela representa, em todo o caso, para simplificar vou utiliza-la aqui. Quando me referir ao adulto experiente que atingiu um grau de maturidade imenso e se encontra agora numa fase particular da sua vida, consideremos aqui o idoso, a pessoa que apresenta mais de 65 anos de idade cronológica.
Como mencionei anteriormente, a depressão causa um grande sofrimento mental e emocional em qualquer uma das etapas de vida. Em particular, no idoso ela não é exceção. Porém é em larga escala confundida com as características singulares desta fase e não propriamente diagnosticada como uma doença do foro psicológico que precisa de ser tratada, à semelhança de outras doenças físicas que são quase sempre “facilmente” reconhecidas.
No que toca o idoso, a depressão normalmente tem uma descoberta tardia, pelo fato de esta estar associada a uma consequência da doença e diminuição geral do potencial de funcionamento cognitivo. Infelizmente, nem sempre ela é corretamente valorizada. Sabemos hoje em dia que se não tiver o devido tratamento (como em qualquer etapa da vida) ela aumenta o risco de morbilidade e mortalidade.
A depressão no idoso é causada por um largo espetro de acontecimentos como os fatores genéticos, o luto, o abandono por parte de familiares e as doenças incapacitantes recorrentes nesta fase, como o alzheimer, o parkinson, problemas cardíacos, problemas de mobilidade, por exemplo.
É importante reforçar que apesar desses acontecimentos, por norma a depressão é mais manifesta quando existe uma combinação de alguns desses mesmos fatores, em particular, a perda da qualidade de vida com o isolamento social e o diagnóstico de doença clínica grave.
A ideia de que deixamos de trabalhar por aposentação, “os filhos estão criados, têm as suas vidas”, o luto por perda do companheiro, a falta de atividades de lazer e ocupação faz-nos certamente entrar numa espiral de desânimo, fazendo levantar a seguinte questão: o que faço eu aqui?
“O medo da progressão da doença física, da pena da dignidade e o medo de se transformar em sobrecarga aos familiares também são fenómenos psicológicos que acompanham o comprometimento da condição física.”
Os sintomas de depressão no idoso são acompanhados de outras queixas, em particular relacionadas com alterações de humor, alterações neurovegetativas, alterações cognitivas e sintomas psicóticos. O risco de suicídio também aumenta em idosos depressivos quando comparados com os não depressivos, é por isso importante manter uma relação de proximidade e acompanhamento.
Os Sintomas da Depressão no Idoso – Alterações Significativas
A) Sintomas do Estado do Humor:
• Deprimido/disfórico
• Irritabilidade
• Tristeza/ Desânimo
• Sentimento de abandono
• Sentimento de inutilidade
• Diminuição da autoestima
• Retraimento social/solidão
• Perda de capacidade de sentir prazer e desinteresse
• Ideias autodepreciativas
• Ideias de morte
• Tentativas de suicídio
B) Sintomas neurovegetativos:
• Falta de apetite
• Emagrecimento
• Distúrbio do sono
• Perda de energia
• Lentificação psicomotora
• Inquietação psicomotora
• Hipocondria
• Dores inespecíficas
C) Sintomas cognitivos:
• Dificuldade de concentração
• Dificuldade de memória
• Lentificação do raciocínio
D) Sintomas psicóticos:
• Ideias paranoides
• Delírios de ruína (falência, desamparo, sem solução)
• Delírios de morte
• Alucinações mandativas de suicídio
Por vezes, observa-se um aumento da agressividade e agitação motora no idoso que é reflexo do mal-estar sentido, provocado pela sintomatologia anteriormente descrita. Por outro lado, o idoso com depressão tem tendência a baixar os cuidados na sua higiene, a fazer uma má alimentação e a dar um uso incorreto da prescrição médica, chegando mesmo a recusá-la. O recurso à mentira surge nesta fase, muitas vezes, como resposta à pressão sentida e à dificuldade em aceitar todas as orientações e recomendações dadas por terceiros.
Os estudos sobre a depressão no idoso identificaram que 50% destes evoluem num prazo de cinco anos para um cenário demencial.
“Muitas vezes, os sintomas depressivos são confundidos com a própria doença clínica geral ou como uma consequência “normal” do envelhecimento sendo pouco valorizados.”
A Importância do Tratamento
O tratamento da depressão tem como objetivo primordial garantir um estado geral satisfatório, onde se possa recuperar a qualidade de vida diminuindo assim, o sofrimento psíquico e o risco de suicídio. Por norma, o tratamento da depressão no idoso passa pelo recurso à psicofarmacologia e à psicoterapia breve (voltada para o presente e para o futuro, em média com uma duração de seis meses). Importa salientar que a terapia ocupacional, atividades de lazer e artísticas têm um importante papel para o bem-estar geral do idoso. Estas devem ser usadas como complementares a todo o tratamento delineado pelo especialista. É fundamental, existir um trabalho de proximidade entre a família, o médico e o psicólogo.
É preciso ter em especial atenção, pois se a depressão não tiver qualquer tipo de intervenção, ela vai colocar em risco a vida do idoso e aumentar a médio/longo prazo o seu sofrimento de forma verdadeiramente destrutiva.
Retirado e adaptado de Stella, F., Gobbi, S., Corazza, D. et al. (2002). Depressão no idoso: diagnóstico, tratamento e benefícios da atividade física. Brasil: UNESP; Okereke, O. I. et al. (2013). Depression in late-life: A focus on prevention. Focus XI, 22 – 31.