Falar sobre o luto não significa que estamos a falar sobre a morte. O processo de luto pode existir sem que a morte realmente tenha ocorrido. Num processo de divórcio, por exemplo, podemos ter de aprender a superar o luto da relação, sem que tenha ocorrido a morte.
O luto é uma resposta emocional normal de sofrimento, que acontece após a perda de uma conexão afetiva muito forte, seja com uma pessoa, animal, objeto ou com um bem imaterial, como o emprego, por exemplo.
A forma como cada um de nós vive o luto depende de vários fatores como a relação que se tinha com a pessoa, o tipo de apoio familiar ou social que dispomos e a personalidade de cada um. Estamos sobretudo a falar da emotividade, a carga emocional da relação.
«Não existe uma forma “certa” de fazer o luto e superar a perda de alguém – somos todos diferentes e temos reações e sentimentos diferentes perante a perda» Ordem dos Psicólogos Portugueses (2020)
O processo de luto pode ser bastante distinto de uma pessoa para a outra, verificando-se formas diferentes de expressar os sentimentos que a morte e a perda podem causar.
Não há um consenso sobre quantas etapas ou fases passamos quando enfrentamos o luto, pese embora se fale muito da teoria baseada em 5 etapas, que compreende as fases de Negação, Raiva, Barganha, Depressão e Aceitação.
É fundamental aceitar que o luto é um mecanismo vital para a nossa saúde psicológica. Quando estamos perante um luto tardio (patológico), este pode trazer consequências graves para o nosso funcionamento, principalmente, se não formos capazes de aceitar e viver perante a nova realidade que, entretanto, se instaurou.
A boa elaboração do luto leva a pessoa a encontrar novos significados para algumas questões referentes à sua vida, contudo, a não elaboração pode acarretar diversas complicações psicológicas. Há uma necessidade por parte do ser humano em reconstruir o significado da perda onde a pessoa em luto reaprende a viver no mundo sem o seu ente querido.
Seja qual for a razão do luto, os sentimentos de incapacidade e de vulnerabilidade acompanham o dia-a-dia da pessoa enlutada. Um dos principais geradores de desorganização funcional é sobretudo a dificuldade de reorganizar rotinas e preencher o sentimento de vazio. Muitas vezes o principal erro, começa exatamente aí, na necessidade “desenfreada” de preenchermos o vazio que sentimos, quando na verdade, deveríamos começar em primeiro lugar por aceitar que esse vazio existe, tentando não iludir essa sensação.
Existem comportamentos a médio prazo que nos ajudam saudavelmente a lidar com o processo de luto, a saber:
1) Identificar e aceitar as emoções que estamos a sentir 2) Deixar que as pessoas significativas estejam próximas de nós 3) Aceitar que é natural criar novas rotinas 4) Cuidar da saúde física, mental e espiritual 5) Procurar e aceitar ajuda profissional
O papel do psicólogo passa em primeiro lugar por acolher a dor e o sofrimento que está nesta fase a sentir, sem qualquer julgamento.
Não se procura “esquecer”, procura-se sobretudo encontrar um equilíbrio entre a razão e a emoção, para que aos poucos, consoante o tempo necessário, se possa compreender as fortes emoções e os sentimentos associados à perda, que incluem falar sobre aspetos relacionados com a pessoa ou animal falecido e com as circunstâncias da sua morte. A terapia, por sua vez, assumirá um porto de abrigo necessário, enquanto a pessoa se restabelece e reencontra o seu novo ritmo de vida.