No inicio da nossa jornada enquanto psicólogos e terapeutas estamos ainda muito vinculados a um padrão de terapia by the book e que nos é transmitida na universidade, mas depois de uns anos a trabalhar no terreno e após muitas experiências com clientes, chegamos a um ponto em que compreendemos que o mais relevante do nosso trabalho se prende com a importância em estabelecer relações sólidas com os clientes.
Essa relação sólida só se cria com base na autenticidade, consideração positiva incondicional e espontaneidade. Estimulamos cada cliente no início de cada sessão o seu “ponto de urgência”, isto é o seu ponto mais crítico e emergente, naquele momento e a partir dai exploramos com profundidade cada vez maior, as questões trazidas por si e que vão sendo partilhadas no momento do encontro.
Que questões são essas? Algum sentimento que ficou no ar pelo terapeuta ou algum outro problema que, entretanto, emergiu em consequência da sessão anterior ou um sonho em particular, uma ideia ou uma emoção.
Do meu ponto de vista a terapia é espontânea, o relacionamento é dinâmico e em constante mutação e evolução. Vive-se intensamente cada momento para que depois se possa examinar o processo em conjunto. Não posso aceitar que trate todos os clientes exatamente da mesma forma, pois cada um deles é único, é singular e deve ser tratado como tal.
No início da minha jornada enquanto psicóloga era comum utilizar o mesmo padrão de forma a sentir-me mais segura no meu trabalho e assim, cometer menos erros. Porém, erros cometem-se e ainda bem, eles possibilitam um crescimento não só do terapeuta, mas na relação com o cliente.
Com o avançar da minha experiência e depois de diversos contatos com pessoas diferentes, utilizar essa fórmula de trabalho, simplesmente não faz mais sentido. Os erros devem ser abertamente discutidos na sessão com o cliente, permitindo que existe um reforço da nossa relação. É fantástico o efeito a seguir, sobretudo de confiança mútua.
Enquanto psicólogos devemos ser capazes de transmitir ao cliente que a tarefa da terapia mais complexa é a própria construção da relação terapêutica e que esta será sem dúvida alguma o maior agente promotor da mudança do cliente. O que torna de extrema dificuldade ensinar isto nas universidades, por mais que seja incentivado a tal.
Acredito que o psicólogo enquanto terapeuta deve sentir-se preparado para ir aonde quer que o cliente vá e como tal, ser capaz de com essas condições, fazer o que seja e esteja ao seu alcance para promover a confiança e segurança no seu cliente.
Assim, no meu caso, tento ajustar a terapia à medida de cada pessoa, à medida de cada objetivo/pedido. Fazendo com que descubra a melhor maneira de trabalhar para cada cliente. Acredito que o processo de ajustamento da terapia não é a base verdadeira da terapia, mas sim, o maior peso e importância está na essência que aplico a ela.
Obviamente, não vou negar que a técnica faz parte da origem da profissão, contudo, o que diferencia o meu trabalho dos colegas é a espontaneidade na relação. Essa espontaneidade e segurança só advém da minha própria experiência, por isso é comum psicólogos menos experientes poderem questionar-se quanto ao que aprenderam na universidade. Eu própria também me questionei inúmeras vezes e procurei respostas fiéis nos manuais, mas se a vida viesse nos manuais ninguém precisaria de psicólogos, certo?

Por exemplo
Numa situação em que um cliente passou por sucessivas percas e abandonos relacionais. Primeiro no seio da sua família enquanto ainda era uma criança, depois com sucessivos fracassos em relações amorosas de namoro, onde o próprio se identifica como demasiado exigente para com os outros e muita dificuldade em não assumir o controlo da relação. Depois de um afastamento físico e emocional da atual mulher e num momento critico de questionamento sobre a vida a dois que acarreta ao mesmo tempo uma grande pressão do filho adolescente e do seu chefe, no cumprimento de objetivos da empresa.
É preciso ajudar o cliente a processar o momento, a fazer algum distanciamento para depois o resgatar dos seus pensamentos e crenças limitantes. Com isto atingir uma restruturação de si, dos seus objetivos e expetativas enquanto marido e enquanto pai e, trabalhar ao mesmo tempo, tudo o que advém do seu passado que o deixa com um medo petrificado de julgamento de não ser suficientemente capaz e maduro para gerir a sua vida, receio em ser gozado por ter medo de se ver novamente rejeitado, abandonado e ficar sozinho.
O fato de não aplicar uma via demasiado rígida com os clientes, transmitindo-lhes frieza ou distanciamento, transforma o processo terapêutico em algo muito mais prazeroso e simples. É sobretudo um caminho para aceder ao outro de proximidade que é construído com base na confiança e na lealdade. Sem ela, como é que é expetável que alguém consiga confiar em nós? Consiga confiar no trabalho que produzimos em conjunto?
Uma pessoa precisa de técnica para aprender a tocar piano, mas no final, quando se quer criar música, é necessário transcender a técnica aprendida e confiar nos próprios gestos espontâneos. Yalom, I.
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