A Depressão Não Limita Apenas Como Nos Sentimos e o que Fazemos, Mas Quem Somos

A depressão, seja no contexto de depressão major, perturbação bipolar ou distimia, pode ser uma doença mental devastadora. A depressão não é simplesmente uma tristeza transitória, embora a maioria das pessoas deprimidas experimente tristeza.

As pessoas deprimidas sofrem muito e muitas vezes não conseguem sentir prazer, não têm energia, não conseguem concentrar-se, têm problemas para dormir ou comer. Esse sofrimento pode ser crónico e recorrente. Um episódio de depressão pode durar anos e as pessoas que sofrem de depressão podem experimentar vários episódios ao longo da vida.

Assim, muitas vezes as pessoas deprimidas também sentem um impacto na sua esfera laboral, por exemplo, deixam de conseguir trabalhar ou participar facilmente nas interações sociais por longos períodos. Como resultado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a depressão a principal causa de incapacidade em todo o mundo. Nos casos mais graves, a depressão aumenta o risco de suicídio.

Mesmo assim, muitas pessoas presumem que, depois de recuperarem de um episódio de depressão, as suas vidas voltam ao normal. E em muitos casos, isso é verdade. As pessoas que lutam contra a depressão podem levar uma vida longa e plena, especialmente se procurarem precocemente tratamento adequado para controlar os sintomas. No entanto, a depressão pode fazer mais do que impactar as vidas,  pode também mudar a maneira como nos vemos enquanto pessoas e esse aspeto pode ter uma influência negativa na forma como olhamos para nós, especialmente em relação à nossa  identidade.

Faz Questionar Quem Somos…

Muitas vezes, quando sofremos um episódio depressivo, sentimos a frustração de não sermos capazes de vivenciar as coisas da maneira que preferiríamos. Ou sentimos o desamparo por não podermos realizar comportamentos funcionais básicos como o trabalho e o autocuidado. Isso pode resultar numa desesperança de que nunca seremos capazes de nos sentir “como nós”. E, de facto, a pesquisa sugere que as pessoas deprimidas carregam vulnerabilidades cognitivas para pensamentos negativos que persistem após a recuperação.

Infelizmente, os medos pessoais são frequentemente repetidos por outras pessoas. A depressão geralmente não é diagnosticada, isto faz com que os outros à nossa volta só se deem conta dos sintomas que observam: parecemos menos interessados, irritáveis, retraídos, incapazes de nos envolvermos em atividades agradáveis.

Frequentemente, não podemos seguir adiante com o que anteriormente seria considerado tarefas fáceis, como o autocuidado básico e a organização. Assim, a depressão pode criar problemas significativos nos relacionamentos mais próximos, principalmente no casamento, onde as pessoas nos veem regularmente e contam connosco. Da mesma forma, o ambiente de trabalho muitas vezes desmorona, pois, as pessoas à nossa volta são incapazes de compreender o porquê da nossa funcionalidade se ter alterado drasticamente de uma maneira menos positiva. Este assunto é agravado pelo estigma da doença mental, em que as pessoas muitas vezes culpam os deprimidos pelo seu próprio sofrimento.

A depressão não é algo que apenas perturba a vida, começamos também a perder a esperança em nós mesmos e a nossa identidade torna-se associada à depressão. Passamos a olhar para dentro de nós, como uma “pessoa deprimida” em vez de alguém que sofre de depressão. À medida que vemos evidências tangíveis que apoiam essas conclusões, o autoconceito formado erroneamente torna-se ainda mais enraizado à medida que a depressão nos rouba quem somos.

Então, Como Podemos Construir e Manter a Nossa Identidade Diante da Depressão?

A primeira coisa que devemos fazer é procurar tratamento. Existem várias formas empíricas de psicoterapia e medicamentos antidepressivos que comprovadamente tratam a depressão. Obter um tratamento eficaz reduz o tempo que passamos a sofrer e nos sentimos disfuncionais.

Desta forma, é possível voltar a sentirmo-nos novamente conectados e envolver-nos no trabalho, às atividades e às pessoas que amamos, fazer progressos tangíveis na construção de quem somos (identidade). Ao aumentar a capacidade de controlar a depressão, teremos mais esperança de poder “ser nós mesmos” no futuro.

Em segundo lugar, precisamos estar conscientes que embora estejamos deprimidos e limitados por causa da depressão, ainda existem maneiras de manter a ligação ao mundo de certa forma.

Vivemos e sofremos com ela, mas não precisa fazer parte da matriz central. Mesmo quando estamos a passar por um episódio depressivo, podemos recordar que, embora tenhamos funcionamento limitado por agora, ainda somos “nós”. É importante, podermos deixar as pessoas mais próximas de nós saberem que estamos deprimidos e evitar assim mal-entendidos sobre o nosso comportamento.

Sofremos de depressão nas sombras por causa do medo ou da vergonha de ser julgados, como consequência, em vez de obtermos a ajuda necessária, evitamos o tratamento por causa do estigma social. Além disso, as pessoas frequentemente julgam aqueles que sofrem de depressão como “preguiçosas” ou simplesmente “desmotivadas”, isso torna o impacto social da depressão mais presente em casa e no local de trabalho.

Se sofre ou conhece alguém que possa estar a sofrer com depressão, aconselhe ou procure ajuda especializada. Não adie nem mais um dia, pois o mais importante neste momento é você próprio, só assim poderá estar capaz de ajudar outros à sua volta, incluindo os que mais ama.

Retirado e adaptado de Friedman, M. (2020). Depression in the ultimate identity thief: The enduring effect of mood disorder on our self-concept. Publish in internet Psychology Today, at 29 october.

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