Tratamento de Fobias com Recurso à Realidade Virtual

A ansiedade está cada vez mais presente na nossa vida e torna-se comum ouvir notícias de pessoas que deixaram de ter capacidade para cumprir determinadas tarefas, como por exemplo realizar exames para concursos ou entrevistas para vagas de emprego, conduzir por conta do alto nível de ansiedade gerado pelo trânsito, fazer viagens de avião, estar em contato com aranhas, passar em pontes, entre outras dificuldades.

As dificuldades não se limitam ao contexto do trabalho, mas também aos da vida social, acadêmica e familiar, nos quais se pode observar que a ansiedade costuma ser um aspeto bastante negativo da interação dessas pessoas com o seu meio. Quando o comportamento emocional envolvendo ansiedade afeta o normal funcionamento, ele pode ser descrito como uma “perturbação de ansiedade”, sendo razão para a indicação de tratamento psicológico ou psiquiátrico, dentre diferentes intervenções, o das terapias de exposição.

“A palavra fobia tem a sua origem no grego Phobos, que significa “medo” ou “terror”. A Fobia é uma perturbação psicológica que provoca sintomas físicos, causada pelo medo sentido em determinada experiência ou exposição. Dizemos que estamos perante um estado fóbico ou de pânico quando a ansiedade sentida é excessiva em relação ao perigo real que determinada situação representa. Os medos são irracionais e limitam imenso a vida das pessoas. Estes “pequenos” medos têm um grande impacto na vida de quem sofre. Se estas Fobias não forem tratadas a tempo, há tendência para agravar e a vida torna-se cada vez mais condicionada“

In Clínica da Mente, 2020.

No contexto terapêutico e para que a terapia tenha resultados é preciso, neste caso, trabalhar com a pessoa, simulando em situação controlada a exposição ansiolítica que provoca a fobia.

Existem diferentes formas de colocar a pessoa em contato com o estímulo temido (ou seja, o local ou situação que provoca um estado tremendo de ansiedade) em situação psicoterapêutica, caracterizando formas de exposição com características próprias, estamos a falar das exposições do tipo:

In vivo (in vivo exposure – IVE) – o contato com os estímulos temidos é feito no ambiente natural em que a pessoa está presente.

Imaginária – a pessoa imagina que está no ambiente narrado pelo terapeuta.

Realidade virtual (virtual reality exposure – VRE) – o contato com os estímulos temidos é feito por meio de ambientes criados com recursos tecnológicos. Esses recursos envolvem hardwares e softwares devidamente programados, por meio dos quais são gerados ambientes tridimensionais sintéticos, denominados, genericamente de realidade virtual (virtual reality – VR). Esses ambientes podem envolver estímulos captados do ambiente não virtual, criando a chamada realidade aumentada (augmented reality, AR).

Os cenários ou ambientes virtuais para a exposição na psicoterapia são construídos de maneira a promover sentido de presença, isto é, permite simular a sensação de estar num determinado ambiente, quando se está noutro. Mas ao mesmo tempo, conseguir promover um controlo sobre o cenário criado.

A Terapia de Exposição com Recurso à Realidade Virtual

A terapia de exposição com recurso à realidade virtual – VRET (virtual reality exposure therapy) ocorre num contexto clínico de forma gradual e segura, permitindo medir a ansiedade através de indicadores fisiológicos (sudorese, frequência cardíaca, resposta galvânica da pele e outros) e/ou verbais (relato do senso de presença e da intensidade da ansiedade). Este tipo de exposição proporciona, a habituação em relação ao estímulo temido, a oportunidade para o enfrentamento e para a emissão de comportamentos adaptativos alternativos.

O enfrentamento é fundamental no tratamento de fobias, sem a exposição direta ao estímulo fobico o efeito do tratamento não é tão eficaz.

Prós e Contras da VRET

Pontos a favor no recurso a este instrumento:

1 – A pessoa não é exposta ao julgamento social, uma vez que a exposição acontece em ambientes privados;

2 – As situações perigosas, como acidentes de trânsito, são evitadas;

3 – A economia, em alguns casos, como no caso da fobia de voar, é promovida;

4 – A aliança terapêutica positiva é permitida, uma vez que o terapeuta é capaz de mediar o tempo e a intensidade da apresentação dos estímulos temidos, controlando o enfrentamento para que ele aconteça de forma gradual e sistemática.

Pontos contra:

1 – Custos elevados dos softwares e dos equipamentos tecnológicos necessários;

2 – Dificuldades dos terapeutas no correto manuseio desses equipamentos;

3 – Falta de flexibilidade para individualizar os programas de acordo com as características peculiares do tipo de fobia e de cada indivíduo.

A VRET funciona de igual modo em relação ao modelo de terapia cognitivo-comportamental, sendo que o processo se dá através de diferentes etapas, a saber:

1ª parte – inicia-se sempre com sessões de psicoeducação;

2ª parte – sessões onde se trabalha os comportamentos de fuga e esquiva;

3ª parte – sessões de criação de comportamentos alternativos,

4ª parte – sessões onde se realizam discussões sobre as mudanças comportamentais conquistadas durante o procedimento;

5ª parte – Por fim, sessões dedicadas às estratégias de manutenção dessas mudanças após a intervenção.

No entanto, ficam ainda algumas dúvidas quanto à estrutura de aplicação da VRET, no que diz respeito à adequação do tempo da exposição, da intensidade dos estímulos para a exposição, da customização de softwares para cada fobia e maneira de conduzir a exposição no decorrer do procedimentoterapêutico.

A VRET tem sido considerada uma estratégia eficaz de psicoterapia, aceite por médicos, psicólogos e pelas pessoas diagnosticados com perturbações fóbicas. A sua eficácia foi destacada por vários investigadores, observando-se uma intenção para que a VRET se possa tornar cada vez mais frequente no tratamento de fobias.

Parece ser uma ferramenta importante no contexto terapêutico, com grande utilidade num futuro próximo se se conseguir baixar os custos dos equipamentos tecnológicos e, se se conseguir administrar formação adequada aos terapeutas.

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Haydu, V., Kochham, J. & Borloti, E. (2016). Estratégias de terapias de exposição à realidade virtual: uma revisão discutida sob a ótica analítico comportamental. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol. 28, n. 3, p. 15-34.

Neves, U. (2019). A terapia de realidade virtual e as suas múltiplas aplicações em favor do paciente. PebMed.

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