Ansiedade e Depressão: Como Podemos Cuidar da Saúde Mental dos Nossos Filhos?

Com a importância da saúde mental agora tão amplamente reconhecida, estamos a observar um aumento no número de crianças que apresentam sintomas e sinais de ansiedade e depressão.

Na prática de clínica privada existem cada vez mais crianças que se sentem ansiosas e deprimidas. Essa referência é observada não só na minha realidade profissional, mas partilhada por diversos outros especialistas ao longo de diferentes realidades e atingindo diferentes países.

Joanna North, psicoterapeuta especializada no trabalho com crianças partilha da mesma opinião, “cada vez mais, há crianças mais novas que sentem que simplesmente não conseguem lidar com as suas vidas”, diz ela.

Por outro lado, os adolescentes manifestam cada vez mais dificuldade em lidar com as suas frustrações, apresentando expressões do tipo infeliz que os leva a comportamentos disruptivos, como a automutilação ou as tentativas de suicídio. Começa a verificar-se também mais casos ligados a comportamento obsessivo-compulsivos relacionados com a alimentação e rituais de limpeza que causam sofrimento recorrente.

É importante que tenhamos consciência que a saúde mental é fundamental, não só para nós mesmos, mas principalmente para os nossos filho, tendo o dever de proporcionar da melhor forma possível essa qualidade de vida, ajudando-os a ultrapassar os seus desafios.

Será que os problemas de saúde mental são evitáveis?

Em primeiro lugar é necessário compreender que as nossas emoções são o ponto fulcral da nossa sobrevivência o que inclui estados mais deprimidos como a tristeza e a melancolia, como estados mais positivos, como a alegria e o uso do humor. Não nos podemos esquecer que a ansiedade é um processo intrínseco e natural para a nosso funcionamento e respetiva sobrevivência humana tal como a tristeza.

A questão é sempre, até que ponto essa vivência é ou não prejudicial para o meu filho? Será que é normal ele se sentir assim com esta idade? A maior parte dos pais preocupa-se mais com a segunda questão do que com a primeira, o que também é normal.

Ao longo dos anos, tem sido hábito fazer uma desvalorização dos estados emocionais das crianças, ou porque interpelamos que é “apenas uma birra” ou que ele está “simplesmente chateado”. São raras (se não nulas) as vezes que nos autoquestionamos se existe de fato alguma justificação para além da nossa primeira interpretação. É por isso que uma boa relação entre pais e filhos é o centro daquilo que pode ser fácil ou não de identificar. Não é em vão que na consulta com um psicólogo, este tem a preocupação de questionar que tipo de comportamento ocorre, quando ocorre, quando começou e se houve ou não agravamento do comportamento e cruzando esta informação com o fato ou não de ter existido algum tipo de situação que possa ter sido o gatilho psicológico para essa resposta.

Outras Influências

O que não nos lembramos é que os fatores genéticos e ambientais podem influenciar a nossa saúde mental, estando dependentes da nossa estrutura biológica, mental e emocional. As características de personalidade contribuem, sem dúvida, para a ansiedade, mas o ambiente é extremamente importante. Quanto mais um ambiente gera stress mais stressados nos vamos sentir e isso tem um enorme impacto no nosso funcionamento emocional e na resposta ao nosso ambiente.

Importância da Construção de Resiliência Emocional

Devemos procurar estimular desde cedo nos nossos filhos, a sua capacidade de resiliência emocional. Dando um exemplo mais concreto, devemos deixá-los aprender a resolver os seus próprios problemas, supervisionando as suas opções para a resolução dos mesmos e sobretudo, como lidam com a sua própria desilusão ou frustração. Os desafios são importantes e os pais devem saber eles próprios gerir quando devem ou não intervir e até onde vai a sua intervenção.
Se protegermos em demasia uma criança das adversidades da vida, provavelmente vamos alimentar uma visão errada do mundo e da realidade. O que contribuirá para uma criança menos capacitada para desenvolver competências de resolução de desafios. Devemos, pois, ajudar as crianças a pensar sobre isso, refletir sobre ele, gerenciá-lo adequadamente e superar isso. Aprender que o fracasso faz parte do processo de crescimento é a chave para o sucesso.

Ambientes Saudáveis

Existem maneiras de tornar o ambiente do seu filho menos stressante, como garantindo que o ambiente está em equilíbrio não só físico, mas emocional:

1)Garanta que o seu filho tem contato com pessoas positivas e que transmitem bons valores, ao passo de permitir que o seu filho passe demasiado tempo com pessoas pessimistas e de difícil gestão emocional.

2)Tenha em atenção o acesso a informações das redes sociais demasiado extremistas e que podem causar um impacto descontextualizado da sua realidade.

3)Não deixe passar uma situação, sem que tenha dedicado uns minutos para abordar o tema com o seu filho, permitindo compreender até que ponto este compreendeu ou não o que assistiu e dando-lhe espaço para formar a sua própria opinião, sem antes lhe transmitir a sua.

4)Deixe espaço ao debate e à análise critica construtiva.

5)Fazer uma boa gestão do tempo útil que dedica ao seu filho traz mais ganhos do que aqueles que pode imaginar. Não se trata de levá-lo ao treino ou deixá-lo na aula de música, trata-se de dedicar tempo a realizar atividades que permitam estimular e aprimorar a vossa relação.

6)Aposte em atividades que permitam partilhar ideias e valores, dê a palavra ao seu filho e procure com ele a melhor escolha.

Será que Sou um Pai/Mãe Anisoso/a?

Por norma, os pais recebem (muitas vezes sem solicitar) conselhos sobre o que é melhor para os seus filhos, o que pode ser difícil de gerir, fazendo-os questionar internamente – “será que estamos a fazer a coisa certa?”

Muitos são os pais que recorrem às consultas apresentando elevados níveis de preocupação, pelo excesso ou entropia de informações que recebem sobre os seus filhos, informações da escola, da educadora, do treinador, dos avôs e a lista segue. Se falarmos de informações por vezes vagas ou descontextualizadas, os níveis de ansiedade dos pais sobem drasticamente. Pais ansiosos definitivamente, vão deixar os filhos também ansiosos mesmo que estes não compreendam o que se está a passar.

Em casos particulares, sem dúvida que é necessário procurar ajuda especializada, mas na grande maioria das vezes, basta que os pais possam ter maior margem de manobra para ouvir os filhos.
Ser pai ou mãe é uma tarefa exigente e não nos podemos esquecer que há o direito aos pais a ficarem zangados e também se sentirem frustrados. Essa matéria também deve ser de forma natural refletida com os filhos de modo a deixar clara a situação.

Por vezes, os filhos fazem interpretações das atitudes dos pais, assumindo que a culpa é inteiramente sua, quando na verdade, os pais podem estar a tentar lidar com outras situações complexas.
Para poder lidar melhor com as emoções dos seus filhos, aprenda a lidar primeiro com as suas. A reconhecer o que lhe faz ficar zangado ou stressado e assuma isso perante os demais. Depois aprenda estratégias que o ajudam a recuperar a calma e a relaxar, sinta-se na liberdade de ter tempo para si também e lembre-se…não existem pais perfeitos.

Referência bibliográfica: Hardy, S. (2019) Anxiety and Depression: How Can We Care For Our Childrens Mental Health.

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