A maioria das pessoas que entra no meu espaço de consulta começa por partilhar que foram muitos os anos que passaram até decidir, por fim, procurar ajuda. Essa ideia vai surgindo ao longo da vida mas consecutivamente, adiada. Em “regra” esta explicação é acompanhada por uma justificação, ainda que não seja pedida por mim, mas quase sempre sublinhada – “eu não pedi ajuda por vergonha e medo”.
Estes sentimentos que acompanham a ideia de ajuda terapêutica são totalmente compreensível, pois, infelizmente ainda existem muitos conceitos errados associados à saúde mental. Principalmente a ideia relacionada ao lado negativo da saúde vendo-a sempre como uma doença e não como uma promoção do bem-estar.
Desta feita, aqui ficam cinco coisas que qualquer um de nós terapeutas gostaria que todos soubessem sobre a nossa intervenção, a saber:
1. Saúde mental é um continuum – Isto é, as pessoas não falam sobre saúde física em termos gerais, como fazem a saúde mental. Por exemplo, ninguém diria: “Ela está fisicamente doente”, ao descrever alguém que pode ter alguma coisa, de alergias sazonais a um diagnóstico terminal. Isso não faria sentido. Mas é o que costuma acontecer com doenças mentais.
As pessoas dizem coisas como “O meu vizinho é doente mental” ao descrever uma variedade de comportamentos (muito recorrentemente com uma conotação depreciativa). Muitas pessoas também falam sobre saúde mental de uma maneira exagerada entre “tudo ou nada”. Dizem coisas como “nunca tive um problema de saúde mental”. Mas a verdade é que sua saúde mental muda todos os dias. É importante por isso, pensarmos nela como uma continuidade.
Pense nisso mais como um continuum dependente do que está a acontecer naquele momento com a sua vida. Esqueçam a ideia que nunca passaram por situações em que a vossa saúde mental esteve em crise ou afetada, todos nós (sem exceção!) experienciam em algum momento da sua vida problemas relacionados com a sua saúde mental, talvez possamos é não nos dar conta desse fato (mas isso é uma história diferente que não vou abordar agora). Prova disso, é o stress constante, a exaustam emocional e as “sensações” de ansiedade e depressão por exemplo.
2. Qualquer pessoa pode desenvolver uma doença mental – Muitas pessoas acreditam que deveriam estar imunes a doenças mentais. Eles acham que são muito inteligentes, bem-educados, têm muito dinheiro ou poucos problemas para experienciar depressão, ansiedade ou alguma outra doença mental. Mas a verdade é que qualquer pessoa pode desenvolver um problema de saúde mental em qualquer idade.
Embora possamos controlar alguns dos fatores que influenciam a nossa saúde mental e sobretudo, cuidar de nós através de variadíssimas formas diferentes, não nos podemos esquecer que não podemos controlar a base genética da qual somos feitos. Não podemos impedir de todo (pois não está no nosso controlo) que algumas das nossas experiências de vida possam desencadear mais facilmente algum tipo de problema relacionado com o nosso equilíbrio mental.
Ainda assim, é fundamental prevenir e isso só pode ser feito procurando ajuda especializada que nos ajude a manter o focado e à tona da água. Caso contrário, é muito fácil entrar numa espiral de recaída por vários anos seguidos. Quando nos dermos conta, poderá ser mais complexo reverter o quadro, porém é preciso definir prioridades e fazer algum investimento de tempo e de recursos.
3. A força mental é diferente da saúde mental – Algumas pessoas vêem a doença mental como fraqueza. Mas há uma grande diferença entre força mental e saúde mental. É semelhante à maneira como a força física e a saúde física são diferentes, estranho não é?
Levantar pesos ajuda-o a ficar mais forte e ter uma atividade física regular (ir ao ginásio, andar de bicicleta, fazer caminhadas e corridas por exemplo) pode prevenir algumas doenças físicas. Mas um corpo aparentemente são e bem definido, não garante que não possa vir a ter cancro ou um ataque cardíaco. O Músculo mental é semelhante. O desenvolvimento da força mental pode ajudá-lo a manter-se saudável e prevenir algumas doenças mentais. Mas isso não o torna permanentemente imune a uma ansiedade ou um transtorno bipolar.
4. Existem muitas maneiras de obter ajuda – Às vezes, as pessoas evitam fazê-lo, porque têm medo de tomar medicamentos ou temem que um terapeuta as force a falar sobre a sua infância. Mas, felizmente, cada pessoa está no controle do seu tratamento. Ninguém é obrigado a falar do que não quer, nem mesmo a ficar com um terapeuta do qual não sente qualquer empatia e ligação. Se por alguma razão isso acontecer consigo pode sempre escolher um novo terapeuta. Pode ainda procurar outro método de ajuda, por exemplo a terapia on-line, se não estiver disposto a deslocar-se a um consultório.
5. As doenças mentais são tratáveis – Se está a aguentar um problema de saúde mental, há uma boa probabilidade de estar a tentar faze-lo sozinho esforçando-se por controlar os seus sintomas e emoções. Talvez até esteja a automedicar-se com alguns hábitos menos saudáveis como o uso de calmantes durante a noite e alguns pontuais durante o dia ou na eventualidade até, comer em demasia, beber em excesso, consumir drogas leves ou até assistir descontroladamente a séries, barricando-se no seu sofá com a sua tv ou com o portátil ao colo por longas horas para fugir da realidade e tentar afugentar alguns pensamentos e ideias.
Acredito que o esforço que tem feito é imenso, mas existem maneiras mais eficazes de gerenciar os problemas que afetam a nossa mente e que consequentemente, alteram o nosso comportamento e aquilo que dizemos.
As doenças mentais são muito tratáveis. Em casos mais graves (esquizofrenia por exemplo) pode-se tornar necessário o recurso ao médico especialista (psiquiatra) para que seja possível ao psicólogo um trabalho mais eficaz, numa intervenção em equipa multidisciplinar. Mas nem sempre é necessário, cada caso é um caso. As recomendações de intervenção podem incluir medicamentos, conversas terapêuticas ou uma combinação de ambos.
Lembre-se, pode sempre procurar ajuda quando quiser, ninguém o vai julgar por isso. Conversar com um terapeuta trás sempre ganhos, pode ajuda-lo a superar um episódio em concreto ou potenciar o desenvolvimento de competências pessoais e relacionais que melhorem o seu bem-estar e obviamente, se sinta bem com as suas próprias escolhas de vida.
Retirado e adaptado de 5 Things Therapists Wish Everyone Knew About Mental Health