Ao longo da nossa vida vamos criando expetativas sobre diversos assuntos. Essas expetativas são sobretudo influenciadas pelas nossas características pessoais, pela nossa experiência de vida, pelo sentimento de segurança, o autoconhecimento, a capacidade de raciocínio e análise dos acontecimentos. Também as emoções intensas como a raiva ou a alegria podem mexer com as nossas expetativas no momento exato em que estamos a ser engolidos por elas.
As nossas expetativas vão estar igualmente presentes quando se inicia um tratamento, seja ele de que ordem for. Na terapia psicológica ou psicoterapia este processo ocorre tornando-se fulcral para o resultado da mesma, visto que quando se inicia uma terapia esta vai ser melhor, quanto maiores forem as expetativas acerca da obtenção de um resultado positivo.
Isto quer dizer o seguinte: numa visão psicoterapêutica, o que sabemos é que os clientes que iniciam um processo com altas expetativas obtêm melhores resultados e esses resultados prolongam-se mesmo após a intervenção. Para tal, também contribui obviamente a disponibilidade para a sua envolvência nas tarefas, no empenho nas sessões e igualmente, a qualidade da aliança terapêutica.
O que é isto de aliança terapêutica? Entende-se por aliança terapêutica a qualidade positiva de relação entre o cliente e o terapeuta. Quanto mais segura for essa relação mais e melhores resultados vão conseguir atingir na terapia. Exemplo deste fenómeno é a analogia ao desenvolvimento infantil – as crianças quanto mais seguras se sentem na relação com as figuras de proximidade (por norma os pais) mais seguras se sentem a descobrir o mundo e assim, procurarem distanciarem-se dos mesmos aventurando-se um pouco mais enquanto brincam no parque infantil. Isto quer dizer simplificando, que uma qualquer relação segura nos transmite o conforto e impulsão necessárias para seguir em frente na aventura.
No caso das crianças, elas sabem que se algo correr de menos positivo quando fazem esse distanciamento podem sempre regressar à proteção dos pais, os pais estarão sempre lá para as apoiar e proteger. Tal também acontece na terapia: os clientes que se sentem seguros aventuram-se autonomamente fora das sessões e crescem exponencialmente de sessão para sessão, pois sabem que aconteça o que acontecer, se sentiram seguros, compreendidos e apoiados pelo seu terapeuta.
Retomando o tema das expetativas, o que também sabemos é que elas em sintonia com uma aliança sólida com o terapeuta, podem provocar verdadeiros “milagres terapêuticos”, isto é, a motivação é tamanha de sessão para sessão e a progressão psicoterapêutica é visível no comportamento e atitude da pessoa.
A maioria das pessoas manifesta as seguintes expetativas antes da terapia:
• Ganhos gerais com a terapia
• Procedimentos
• Papel do terapeuta
• Duração da terapia
• Pós-terapia
Estar em sessão com o terapeuta transmite a segurança essencial e necessária no mundo real. Para muitas pessoas, o estar com o terapeuta é por si só um ganho primário na melhoria do seu humor e assim por consequente, na diminuição de sintomatologia negativa como a apresentada nos casos de depressão, por exemplo. Para este efeito é central o empenho e dedicação do terapeuta na colaboração com a pessoa.
“ (…) Clientes com uma aliança terapêutica forte, tendem a se sentir mais felizes, com mais confiança, e mais satisfeitos e amigáveis logo depois ter concluído a sessão, e portanto, fazem mais progressos ao longo da terapia.”
Porém, também é certo que pessoas que apresentam expetativas baixas quanto à obtenção de resultados desde o início da terapia, se retraem mais ao longo das sessões, fecham-se em si mesmas manifestando pouco ou nenhum empenho nas sessões, que não colaboram nas tarefas, consequentemente acabam por abandonar a terapia. Este tipo de pessoas são identificadas como defensivas, acreditando que reter pensamentos, memórias e ações as vai ajudar a melhorar, contudo ao fugirem do trabalho terapêutico, estão verdadeiramente a perder a oportunidade de superar as suas dificuldades.
Cabe ao terapeuta a sensibilidade para trazer este tema à discussão central das sessões e se necessário, recuperar o que escapou ou ficou para trás de modo a realizar uma tentativa de mudança das crenças e assim, trazer de volta o foco da pessoa ao contexto presente.
Fonte: Sousa, Daniel. (2017). As Expectativas dos Pacientes na Psicoterapia: Uma Revisão de Literatura. Tese submetida para obtenção do grau de mestre em psicologia especialidade em psicologia clinica. Lisboa: Instituto Superior de Psicologia Aplicada.