Como nos Podemos Perdoar?

Todos cometemos erros, mas aprender a aprender com esses erros, libertar, deixar ir, continuar em frente e perdoar a nós próprios, é um importante marco para a saúde mental e bem-estar integral.

Perdoar é reconhecido como um ato ou capacidade de libertar sentimentos como a raiva e o ressentimento. Perdoar é por norma considerado como algo positivo. Podemos até ter alguma facilidade em perdoar os outros, mas podemos e somos por norma mais duros connosco.

Aprender como é que nos autoperdoamos, pode-nos ajudar a encontrar outras formas de explorar as situações e trazer um ganho importante no que toca a ter maior facilidade para nos perdoarmos.

O que torna o autoperdoar tão difícil?

Quando tomamos decisões ou temos atitudes que vão contra a nossa forma de ser e estar podemos ter sentimentos de culpa e arrependimento. Uma das razões é a dificuldade em abandonar ou enfrentar um ressentimento e encarar erradamente o objetivo daquele propósito/ação.

Uma das dificuldades não é só enfrentar a culpa das nossas ações, mas também a vergonha muitas vezes sentida e que “corrói” os pensamentos.

Perdoar-nos de tais pensamentos pode ser difícil, pois nem sempre estamos totalmente conscientes deles. Algumas pessoas apresentam uma maior predisposição para a ruminação, o que pode ser mais fácil e impulsionador para o fabrico de pensamentos negativos.

Evidentemente, autoperdoar implica saber gerir sentimentos, mas não só. Para nos podermos perdoar é preciso admitir a necessidade de mudar a forma como pensamos, o que torna todo o processo mais desafiante.

Nem sempre nos sentimos preparados para essa mudança, pois ela assusta e sobretudo, quando se decide fazê-lo pode ser mais difícil e doloroso do que estamos à espera. Tal capacidade obriga a chegar a um patamar superior e ser capaz de admitir muitas vezes que falhámos para nos perdoarmos.

É fácil arranjar desculpas para não o conseguirmos fazer e isso dá-nos a sensação de algum refúgio. Muitas vezes, o nosso discurso vai no sentido de minimizar a situação ou até mesmo de atribuir “desculpas” como motivo principal. No entanto, ao faze-lo estamos a prejudicar aquilo que seria uma boa razão para a mudança, como se fosse uma espécie de camuflagem sentimental. Não é por isso que o desconforto deixa de existir porém, ele parece mais distante do pensamento, mas na prática mantem-se presente na nossa rotina diária.

Em 2016 um estudo publicado pelo Journal of Health Psychology dava conta que as pessoas mesmo com pontuações mais elevadas de stress, mas que apresentavam uma maior capacidade de se autoperdoarem, exibiam melhores resultados na sua saúde mental, do que aquelas que não possuíam essa capacidade. Nesses casos, os níveis de saúde mental baixavam consideravelmente.

Isto quer no fundo dizer que, a capacidade de autoperdoar contribui para o bem-estar mental mas importa compreender como é possível chegar lá.

A capacidade de autoperdoar reduz os sintomas de depressão, ansiedade e outras condições mentais. Uma das maiores contribuições é a capacidade para superar a raiva e a revolta o que faz diminuir o stress. As pessoas com menor stress nas suas vidas ou que sabem geri-lo de forma mais eficaz, geram uma maior capacidade de imunidade a essas emoções de raiva e revolta e sofrem menos perda de energia.

Ter a capacidade de nos perdoarmos melhora a nossa competência na relação com os outros, isto porque nos ajuda a ter uma postura mais positiva sobre nós próprios.

Perdoarmos a nós mesmos é mais do que somente deixar o passado para trás e seguir em frente. É sim, a capacidade para aceitar que aconteceu e reconhecer a nossa própria compaixão. Ser capaz de autoperdoar não é sinal ou sinónimo de fraqueza, é uma capacidade de estender a empatia e compreender que quando nos sentimos magoados ou nos magoamos, nunca é fácil aceitar ou compreender.

Perdoar a nós próprios ou aos outros não é o mesmo que concordar com o que se passou, até porque a situação pode ter sido muito dolorosa e devastadora nas nossas vidas. Isso significa sim que aceitamos o que aconteceu (mesmo não concordando) e que devemos aceitar a realidade e continuar a nossa jornada da vida, conscientes do que se passou, mas capazes de continuar a avançar sem que passemos o tempo a ruminar sobre a situação.

Como nos podemos perdoar?

1. Responsabilidade – capacidade para aceitar a responsabilidade pelos nossos atos, isso fará diminuir as emoções negativas em excesso tais como o arrependimento ou a culpa;

2. Remorso – capacidade para sentir remorso e não reprimi-lo, isso dar-nos-á capacidade para pensar sobre as consequências, sentir mais empatia e encontrar uma fórmula para melhorar os nossos atos;

3. Restauração – capacidade para fazer reparações nas nossas ações, isto é, ser ativo no sentido de retificar os erros. Por vezes, poderá ser necessário pedir desculpa;

4. Renovação – capacidade para encontrar formas positivas de superar a situação e ser capaz de retirar algo bom dessa experiência, como por exemplo pensar como essa situação pode contribuir para eu me melhorar enquanto pessoa. Permite ainda ter espaço para pensar numa forma de prevenir novas situações no futuro. Muitas vezes para nos perdoarmos é necessário encontrar um caminho para aprender com essa experiência de crescer pessoalmente.

Mas atenção!

Este modelo pode não se ajustar a todas as pessoas nem a todas as situações das quais não existiu uma responsabilidade ou controlo da situação. Isso pode acontecer em particular nas situações traumáticas de abuso e negligência por exemplo, em que são verificados sentimentos de culpa, vergonha e remorso. Nestas situações particulares, deverá existir um acompanhamento personalizado por forma a ajudar a pessoa a compreender o que estava e não estava ao seu alcance e controlo e assim, para que esta consiga compreender tendo a capacidade para se perdoar de algo que ela própria não podia controlar ou ser responsabilizada.

Perdoar as pessoas que nos magoaram pode ser muito desafiante e difícil, mas perdoarmo-nos é ainda mais duro. É importante relembrar que aprender como podemos autoperdoar não é uma coisa que se faça de um momento para o outro, pois nunca é fácil ou simples, mas lutar para que isso aconteça permite desenvolver a compaixão e isso ajudará a criar várias oportunidades e trazer benefícios à saúde mental.

retirado e adaptado de How to forgive yourself

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