Será que o Meu Filho Está Preparado para o 1º Ciclo? A Prova de Prontidão Escolar – Sim ou Não?

Existe uma grande preocupação dos pais em ter a certeza que os filhos estão preparados para entrar no mundo escolar. A frequência ou não no pré-escolar pode dar maior ou menor segurança, mas sabemos que isso não basta. Alguns educadores e professores também se demonstram preocupados com algumas crianças que parecem apresentar um “low profile” de aprendizagem, considerando esse fator como central na hora de decidir dar a sua opinião sobre se deve ou não a criança transitar para o 1º ciclo do ensino básico.

Sabemos que tanto pais como educadores desejam que a criança faça essa transição escolar de forma positiva e que isso tenha o menor impacto possível nas rotinas da criança e da família de um modo geral. Mas foi somente na década de 80 que se começou a abordar e considerar o tema da prontidão escolar, como forma de comprovar ou salvaguardar que a criança está realmente preparada para uma transição escolar correta. Porém, desde essa altura, que o conceito e ideia em si mesma tem sofrido inúmeras variantes e olhares diferentes.

Num estudo realizado em 2012 com uma amostra não representativa de pais e professores portugueses, o maior peso como sinal que a criança está prepara para iniciar essa transição recaí sobre as atitudes face à escola e aprendizagens.

A Transição para o 1º Ciclo

A passagem para o 1º ciclo não deve ser vista como um “bicho papão”, pois essa mudança faz parte da vida de todas as crianças e famílias. Devemos olhar para essa transição escolar, como para todas as que existirão futuramente, como uma oportunidade de crescimento e evolução. Obviamente, esta transição requer desafios e questões que necessitam ser ultrapassadas. Essa transição é um marco muito importante na vida da criança e por norma, é encarado pelo ponto de vista da criança, como algo que provoca ansiedade mas ao mesmo tempo entusiasmo.

A ansiedade surge através do stress que essa transição acarreta, pois é acompanhado por outras mudanças, como seja a mudança de escola, dos pares (amigos/colegas), de educadores, algumas vezes obriga inclusive à mudança de localidade e à adaptação de novas regras e rotinas próprias do contexto escolar. Devemos estar cientes que o que causa maior desconforto e consequentemente risco, não é a transição escolar em si mesma, mas todas as mudanças que correm em conjunto com ela.

É preciso ter noção que para uma transição bem-sucedida não depende só da própria criança, mas de um conjunto complexo de outros fatores como o contexto, a escola, a família, a etnia, a cultura e a linguagem.

Sucesso Escolar

As inúmeras investigações realizadas, desde há muito tempo sobre esta problemática fazem referência à importância que esta transição tem no sucesso escolar futuro. Para tal, é necessário a existência de uma certa harmonia entre a criança, a família, a escola e a comunidade para que o sucesso aconteça. Não podemos afirmar nesta perspetiva que existe uma “fórmula mágica” para que a transição escolar se dê com toda a garantia de sucesso, contudo existem algumas coisas que se podem fazer.

É preciso no entanto compreender que a base da pirâmide é composta por pré-requisitos: competências, regras, conhecimentos e exigência física não só da própria criança, como já fizemos ressalva mas igualmente da família, da escola e da comunidade. Neste sentido, nasce a ideia de prontidão escolar.

Tem-se, por um lado, a preocupação de avaliar as crianças, de compreender de modo dicotómico se estas estão, ou não, aptas a transitar com sucesso; por outro lado tem-se a preocupação de educar para a mudança que é inerente à transição, procurando indicadores de prontidão e promovendo uma constante evolução das aprendizagens.

Prontidão (Readiness)

“Como podemos ter a certeza que determinada criança está pronta para aprender?” Esta foi a ideia lançada em 1989 pelos Estados Unidos da América, em que colocava o objetivo da educação na capacidade da criança para compreender e aprender conteúdos.

Parece um pouco redutor avaliar do mesmo modo crianças diferentes com a esperança que elas tenham resultados iguais. Contudo existem sobretudo dois tipos de provas/testes: por um lado as que se dedicam à medição dos conteúdos académicos e por outro, as que se centram nas etapas do desenvolvimento. Mas será que mesmo assim está garantido o sucesso na transição?

E quanto às crianças que não estão prontas? Muitas práticas remetem-nos para a retenção, ou se quisermos, um atraso nessa transição, porém esse atraso não parece ter qualquer repercussão positiva tendo em conta que não se encontram quaisquer vantagens diretas. Não é por essa razão que as crianças realizam uma transição com sucesso, por outro lado, pode até ter algumas consequências negativas para a criança, como a criação de um estigma contra a escola e o desenvolvimento de autoconceitos negativos sobre si mesmo.

Nesta lógica, mais importante que a avaliação psicológica ou académica é antecipar a preparação da criança. Essa preparação deve existir desde sempre.

Mudanças Ao longo da Vida

Durante toda a vida a criança vai ser exposta direta ou indiretamente a mudanças. Essas mudanças causam sempre stress e inevitavelmente, podem desencadear crises. Não quer dizer no entanto que essas crises que resultam dos processos de mudança sejam negativos. Se uma criança está desde cedo habituada a mudar de ambiente e essa mudança, é feita com critério, isto é, de forma gradual, ajustada e emocionalmente estável a criança vai assimilar e posteriormente, acomodar esse processo de mudança como algo que causa agitação, mas que no futuro trará coisas boas.

O problema muitas vezes não está nas crianças, pois elas têm um poder superior de flexibilidade e adaptação ao meio, mas sim no adulto. Parece que num instante, os pais são assombrados por questões internas de capacidade de mudança e gestão, quer deles próprios quer da criança em si.

A tal base da pirâmide para o sucesso, está na potencialização de aprendizagens ao longo da vida que contribuem para a realização de uma transição segura.

Guideliness Para uma Transição Segura

Os programas de transição devem contemplar um conjunto de guideliness como sugeriu Dockett e Perry (2011) para a garantia de uma transição segura:

1) Estabelecerem relações positivas entre as crianças, pais e educadores;

2) Facilitarem o desenvolvimento de cada criança enquanto aprendente com capacidades;

3) Diferenciarem entre programas de “orientação para a escola” e de “transição para a escola”;

4) Recorrem a financiamento e recursos adequados;

5) Envolverem toda a amplitude de intervenientes;

6) Serem bem planeados e devidamente avaliados;

7) Serem flexíveis e responsivos;

8) Basearem-se no respeito e confiança mútuos;

9) Apoiarem-se em comunicação recíproca entre os participantes;

10) Terem em conta aspetos contextuais da comunidade das crianças e famílias, enquanto indivíduos nessa comunidade.

Em jeito de conclusão podemos dizer que a prontidão escolar não é um conceito em si mesmo, mas si “a estimulação das competências das crianças, com vista a uma transição bem-sucedida. O objetivo é educar para a mudança, verificando os indicadores de prontidão de cada criança e promovendo uma melhor adaptação, contemplando todas as dimensões que se verifique serem necessárias: física, académica, social, emocional, entre outras”.

Retirado e adaptado de: Monteiro, J. (2012). A Prontidão Escolar de Crianças em Transição para o 1º Ciclo – Crenças de Pais e Professores. Universidade de Lisboa: Faculdade de Psicologia.

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