Um estudo recentemente partilhado no Journal of Epidemiology & Community Health demonstra que as mulheres que trabalham longas horas durante a semana, em média entre 55 horas, apresentam um aumento do risco de virem a ter depressão. No entanto, para quem trabalha ao fim de semana, o aumento de risco de depressão é idêntico entre homens e mulheres.
Os investigadores chamam a atenção para o fato destas alterações estarem intimamente ligadas às mudanças no mundo económico e nas grandes expansões empresariais que provocam uma maior necessidade (e pressão!) de trabalhar até “fora de horas”.
O que sabemos é que estas condições estão a contribuir em larga escala para o aumento progressivo de problemas físicos, sabendo-se ainda muito pouco sobre o seu impacto na esfera psicológica. Para além deste aspeto, a maior parte dos olhares têm estado focados nas pesquisas realizadas com homens e em trabalhos muito concretos.
Um outro aspeto interessante desta investigação, também trouxe à discussão o seguinte, em geral, os trabalhadores mais antigos, fumadores e aqueles que ganharam menos e com menos controle de trabalho estavam mais deprimidos, afetando na mesma medida tanto os homens como as mulheres.
Ainda assim, existem diferenças a destacar entre homens e mulheres, por exemplo:
Os homens – genericamente tendem a trabalhar mais horas do que as mulheres.
Os investigadores não conseguiram com clara evidência justificar as diferenças nos sintomas de depressão manifestado nos homens que fizessem um número normal ou superior de horas durante o período da semana. No fim-de-semana, no entanto a situação modifica-se, pois o impacto que tem nos sintomas é bem evidente. Esse impacto é sentido com maior peso nos homens.
As mulheres – fazem mais horas durante a semana, mas trabalham até menos tarde quando são casadas.
A cada semana seguida que as mulheres fazem um período de horas superior às 35/40 horas semanais, aumenta o impacto dos sintomas depressivos. As que trabalham em média mais de 55 horas por semana e durante mais semanas seguidas, são as que sofrem drasticamente, agravando-se gradualmente a sua condição mental, observando-se cada vez mais sintomas depressivos (humor negro e irritável, pouca tolerância, dificuldade na atenção/concentração, dificuldade na regulação do sono, hipersensibilidade, etc).
Como Se Podem Encontrar Justificações Lógicas para Estas Diferenças?
Os investigadores sugerem que estas diferenças resultam do número elevado de horas que as mulheres trabalham em ocupações dominadas por homens, enquanto os que trabalham nos fins-de-semana tendem a concentrar-se em empregos mal remunerados no sector de serviços. Este tipo de emprego combinado com uma complexa rede de interações com o público-cliente está correlacionado com um risco elevado de depressão.
Os sintomas depressivos nas mulheres também podem ser interpretados, reconhecendo que para além das horas em trabalho laboral, elas também passam uma boa parte do seu tempo em tarefas domésticas quando regressam ao seu seio familiar, para além de outras responsabilidades inerentes à esfera familiar.
Sabemos porém, que a partilha de tarefas domésticas entre o homem e a mulher tem aumentado cada vez mais na nossa sociedade, a questão vai no entanto muito para além da simples realização da tarefa. Mesmo que a mulher não execute essa tarefa doméstica e que a delegue a terceiros (por exemplo passar a roupa a ferro), existirá uma parte consciente de tempo em que ela está a organizar essa tarefa para a deixar para o outro fazer (por exemplo tratar da roupa lavada que quer que seja passada a ferro) e isso requer igualmente tempo e espaço. Os homens são, como sabemos, por natureza mais descontraídos nesta matéria.
Tradução e adaptação de Nauert Phd, R. (2019). Long Works Hours May Hike Depression Risk in Women. Psych Central.