O conceito de resiliência nasceu à pouco mais de 30 anos e está intimamente ligado à ciência física significando a capacidade de um qualquer material ser capaz de absorver energia sem alterar a sua forma física (original). Obviamente, se quisermos aplicar diretamente esta dinâmica a uma pessoa, seria no mínimo estranho assumir que a pessoa ao passar por um elemento stressante se iria manter sempre inalterada. Como sabemos, isso não é verdade, pois qualquer interação sofrida, modifica, ainda que inconscientemente a forma como cognitivamente passamos a interpretar esse acontecimento. Por outras palavras, enquanto seres humanos, depois de passarmos por uma experiência (seja ela positiva ou negativa), jamais voltamos à nossa forma original.
Ora, o termo resiliência, significa na esfera psicológica a capacidade de superação que uma pessoa apresenta quando se depara com um momento de stresse e crise. O mesmo pode ser aplicado a uma instituição, a um grupo ou organização.
Os diversos estudos realizados até à data, demonstram que todas as pessoas são resilientes, embora este conceito por vezes esteja muito enraizado com a palavra “invulnerabilidade” no entanto, eles não têm o mesmo significado.
De acordo com Zimmerman e Arunkumar, a resiliência é vista como a aptidão para superar um adversidade, o que não é o mesmo que dizer que uma pessoa não é afetada por momentos de crise, como no caso da invulnerabilidade. É por isso que se diz que a resiliência não é nem uma característica nem um traço individual, ela é originada por um conjunto de fatores, podendo assumir diferentes formas em diferentes pessoas e em contextos diferenciados, como iremos ver melhor em seguida.
Os fatores protetores assumem um papel preponderante em relação à resiliência. Uma pessoa resiliente é aquela que num determinado momento de crise e/ou stresse, consegue fazer uma boa leitura da situação, rapidamente se adaptar e dar uma resposta. Quando a pessoa é possuidora de fatores protetores como um bom suporte familiar, boas relações interpessoais, capacidade de insight e versatilidade, a resiliência está bem presente.
Quando pensamos em resiliência é normal que a primeira ideia seja que esta deverá ser uma capacidade inata ou adquirida. Provavelmente, também se pode pensar que depois de adquiria pode ser utilizada como recurso em todos os momentos, mas isso é uma falsa ideia.
Na verdade, a resiliência é uma interação dinâmica existente entre as características individuais de cada um de nós e a conjugação com a complexidade do contexto, isto é, o ambiente circundante. Por outro lado, a resiliência pode ser desencadeada e desaparecer em determinados momentos da vida e estar presente só em algumas áreas e ausente em outras. É por isso que atualmente se acredita que cada pessoa é resiliente e que ela está presente no desenvolvimento de qualquer ser humano.
Quando falávamos dos fatores protetores, estamos também a levar em consideração que o modo como cada pessoa interpreta os momentos stressantes ou de crise varia de pessoa para pessoa. Pelo contrário, se olharmos para os fatores de risco como os eventos negativos da vida, sabemos que existe uma forte probabilidade da pessoa manifestar alterações físicas, sociais ou emocionais negativas e que o impacto causado é muito maior.
“Fatores de proteção referem-se a influências que modificam, melhoram ou alteram respostas pessoais a determinados riscos de desadaptação”. Rutter, 1985.
Quando é que a Resiliência Está Presente?
Como percebemos a resiliência não é algo que exista por si só. Ela, não manifesta qualquer efeito quando não existem momentos de crise ou stresse. Por outro lado, quando eles existem ela desencadeia uma modificação brutal da resposta da pessoa à situação concreta.
No entanto, atenção! “A Proteção não é uma «química do momento», mas o modo como a pessoa lida com as transições e mudanças da sua vida, o sentido que ela dá às suas experiências, o seu sentimento de bem-estar, autoeficácia e esperança, e a maneira como ela atua diante de circunstâncias adversas”.
Cada um de nós, independentemente do contexto onde viva, é certo e sabido que o estado psicológico saudável depende em primazia da existência de interações e do tipo de qualidade. A qualidade quer dizer que as interações devem ser marcadas por sentimentos afetivos positivos, recíprocos e em equilíbrio de poder.
Já percebemos que todos somos resilientes a questão é, quando e como coloca-la em bom uso na nossa vida.
A resiliência não significa que seja fácil lidar com um problema, significa sobretudo que embora a intensidade do momento ou do problema seja elevada, temos capacidade para encontrar uma fórmula muito mais produtiva e rápida para lidar com a sua causa.
Todos nós podemos aprender a aumentar as nossas aptidões de resiliência. Como qualquer capacidade humana, aprender uma maior resiliência é algo que se pode fazer em qualquer idade, de qualquer origem, independentemente de sua educação ou relacionamento familiar. Tudo o que precisamos fazer para aumentar os níveis de resiliência é ter disposição para fazê-lo.
Como Potencializar a Resiliência?
Há muitas maneiras diferentes de aumentar a resiliência. Ter relações de suporte e apoio na vida com familiares e amigos é uma base importante de acordo com inúmeras pesquisas. Quando os relacionamentos com os outros (sejam familiares, amigos ou até colegas de trabalho) são positivos e construtivos, ajudam-nos contribuindo para o aumento do sentimento de segurança, reforçando a nossa capacidade de superação e encorajam-nos a superar os momentos mais difíceis e delicados que possamos ter pela frente. Por outro lado, este suporte permite que a recuperação seja feita de forma mais rápida e que seja restabelecido novamente o padrão normal.
Os relacionamentos não são apenas importantes dentro do seio familiar. Ter uma forte rede de amigos (e não apenas “amigos do Facebook”) é um componente valioso para construir uma melhor resiliência.
Existem outros fatores que podem ajudar a aumentar os níveis de resiliência, incluindo:
a) Ter uma visão positiva de si mesmo (autoimagem) e confiança nos pontos fortes e aptidões (autoconhecimento).
b) Ser capaz de traçar planos realistas, isto é, exequíveis em tempo e espaço.
c) Ser capaz de efetivamente e de maneira saudável gerenciar sentimentos e impulsos.
d) Desenvolver uma boa capacidade de comunicação (ou trabalhar ativamente nesse sentido, é fundamental).
e) Desenvolver skills para resolver problemas (ou trabalhar ativamente para melhorá-las).
Fonte: Yunes, M. (2003). Psicologia positiva e resiliência: O foco no indivíduo e na família. Psicologia em Estudo; Koller, S. & Poletto, M. (2008). Contextos ecológicos: promotores de resiliência, fatores de risco e de proteção. Estudos de Psicologia, Campinas; Cohen, H. (2017). What is Resilience? Psych Central. Retrieved on December 18, 2018, from https://psychcentral.com/lib/what-is-resilience/.