Quando existe um mal-estar físico como uma dor nas costas que se prolonga por vários dias somos levados a deslocarmo-nos ao médico para ver o que se passa. Mas quando passamos, várias semanas com sentimento de perda de controlo sobre a vida, menos prazer para fazer as coisas que antigamente gostávamos ou perda gradual de interesse na relação com os outros, essas semanas transformam-se em meses e por vezes, em anos.
Atribuímos a causa ao stress do dia-a-dia e ao cansaço no trabalho e assim continuamos a viver. A situação por vezes vai-se agravando de tal modo que o nosso pensamento faz-nos questionar a razão das coisas. No entanto, continuamos sem agendar uma consulta para avaliar o estado da situação atual, pois ela não é uma dor palpável é por outro lado, um desconforto mental que não sabemos de onde vem (às vezes sabemos mas, fingimos que não…).
O medo de ir ao médico e admitir que não se está bem é algo que pesa muito. O medo de prescrição de medicação, como um ansiolítico ou um antidepressivo pesa ainda mais. É certo que em alguns casos existe efetivamente essa necessidade. Quando a situação se torna gravosa, afetando todo o funcionamento normal da pessoa por norma, é essa a recomendação que é feita.
Neste sentido, coloco a seguinte questão:
Então e se, em vez de marcarmos aquela tal consulta apenas muitos meses depois dos primeiros sintomas (a maioria das vezes colocámos essa hipótese de lado), tal fosse feito após os primeiros sintomas, provavelmente nas primeiras semanas?
Se essa dor, fosse uma dor de costas, imagine o desconforto e o quanto prejudicial para a sua saúde seria se só fosse ao médico passados muitos meses? Consegue imaginar? Provavelmente, a doença seria cada vez mais intensa, provocaria dificuldade noutras áreas, como andar e dormir. O mais certo era acabar por ter de colocar baixa pelas dores se terem tornado crónicas e incapacitantes para aguentar a exigência da rotina diária.
Então…qual é a diferença quando se trata de uma dor emocional? Se substituíssemos a dor de costas por: humor depressivo e sensação de vazio, não seria de esperar que ela se torne cada vez mais intensa, tal e qual como qualquer outra dor?
Essa dor incomoda e continuava a incomodar ao longo de semanas que, de repente se transformam em meses, não é natural que queiramos ficar melhor? Não seria normal pedir ajuda?
Eu diria que se olhássemos para a saúde mental como uma prioridade física a questão seria outra.
Esquecemo-nos constantemente que, tal como a saúde física, a saúde mental faz parte integrante da saúde de cada um de nós.
A saúde mental não é apenas a ausência de doença mental, é um estado de bem-estar com que as pessoas devem ter direito a viver, promovendo as suas capacidade e desenvolvendo as suas competências, melhorando assim a gestão do stress do dia-a-dia.
Doença Física Versus Doença Mental:
Sabemos, hoje em dia, que a saúde mental e a saúde física caminham lado a lado. A doença mental pode contribuir para o aumento do risco de doença física, normalmente devido aos estilos de vida adotados e a comportamentos desajustados que prejudicam a saúde. Por outro lado, sabemos que a doença física, por se tornar por vezes tão incapacitante, influência e contribui para o aumento de risco da doença mental.
As pessoas com doenças crónicas, doenças cardiovasculares, diabetes, doenças pulmonares e doenças músculo-esqueléticas estão mais expostas ao risco de sofrer de doença mental como a depressão, ansiedade ou a demência no caso dos idosos.
Mais de 80% das pessoas que recorrem aos cuidados de saúde primários, apresentam sofrimento psicológico significativo que na grande maioria das vezes, é relativizado e mal ajuizado.
É importante compreender que a doença mental agrava a doença física e a doença física agrava a doença mental.