O cérebro inicia o seu crescimento entre a 2ª e a 3ª semana do período intrauterino. O desenvolvimento cerebral assume uma particular importância nos primeiros 6 anos de vida da criança (1ª infância). Sabemos hoje em dia, pelas inúmeras investigações que o desenvolvimento cerebral é responsável pela aquisição de aprendizagens fundamentais ao longo da vida, sendo que os três primeiros anos são cruciais.
Esse fantástico órgão que é o cérebro é extremamente complexo e articulado. É formado por uma longa rede de prolongamentos de neurónios que criam circuitos emaranhados, fazendo a ligação entre as diferentes áreas cerebrais através de impulsos elétricos. Essa rede que dá passagem à energia elétrica é chamada de sinapse. Em determinadas áreas cerebrais as sinapses conseguem atingir cerca de 700 novas comunicações por segundo durante o 2º ano de vida da criança.
As sinapses (conexões entre os neurónios) assumem uma grande relevância, pois suportam toda a informação. Portanto, quanto mais vão sendo utilizadas mais fortes se tornam, pelo contrário quanto menos forem estimuladas, acabam por enfraquecer e por fim, desaparecer.
Paralelamente a este processo importa destacar a importância da mielina durante e após o nascimento da criança.
O que é a mielina?
Durante a comunicação entre os neurónios, a mielina é responsável por potencializar a comunicação dos impulsos elétricos, pois é uma substância composta por gordura e proteína.
As experiências vividas ao longo dos primeiros anos de vida e a estimulação que é feita ao nível cerebral, permite a aquisição e desenvolvimento de novas aprendizagens. Com as novas aprendizagens o cérebro modifica-se ficando cada vez mais eficaz, o que promove o amadurecimento cerebral. Contudo esse amadurecimento só estará completo em algumas áreas cerebrais com a entrada na idade adulta.
Figura – Ilustração de um neurónio e das suas componentes com a identificação da mielina.
É verdade que o cérebro sofre alterações mesmo após a criação dos primeiros circuitos neuronais. Quanto mais estímulos e experiências o cérebro for exposto maior a complexidade desses circuitos, provocando uma constante adaptação. A este processo chamamos de plasticidade cerebral. A plasticidade cerebral é entendida como “a capacidade de constante remodelação, não só da função mas de sua estrutura, influenciada pela experiência e que se estende ao longo da vida”.
A plasticidade cerebral apresenta uma atividade intensa nos primeiros anos de vida da criança, pois permite a aquisição de determinadas funções cerebrais. Existem pois períodos sensíveis, uma espécie de balizas temporais de potencialização de determinadas aquisições, consideradas como momentos ótimos, como as matérias específicas da cognição, isto é, memória, atenção, raciocínio, juízo crítico e planeamento. De salientar que a capacidade de gestão e controlo de impulsos e a capacidade de assimilar regras também é nesta fase uma matéria primordial.
Figura – Ilustração do desenvolvimento cerebral e aquisição de aprendizagens significativas no futuro da crianca.
No entanto essas funções só estarão no seu potencial ao atingir o período da adolescência e até à fase adulta. Como foi referido anteriormente, todas as experiências vividas pela criança na primeira infância e a estimulação que for realizada permitirá o maior desenvolvimento da capacidade das funções cerebrais e por consequente maior aptidão para a aquisição de novas aprendizagens.
As relações socioafetivas, como a relação no contexto familiar, com os pais, irmãos e avós e mais tarde, com o contato social através da interação com os seus pares vão privilegiar na criança a construção de circuitos neuronais mais complexos e por sua vez, mais capacitados para mais tarde, dar resposta aos diferentes desafios diários.
Importa realçar que no caso dos períodos sensíveis serem ótimas oportunidades para aquisição de competências, também se tornam pontos cruciais de vulnerabilidade e exposição a conteúdos tóxicos. A exposição a estímulos negativos como a negligência afetiva, maus-tratos físicos e psicológicos pode levar a graves lacunas no desenvolvimento cerebral da criança.
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Adaptado de: Comité Científico do Núcleo Ciência pela Infância (2014). Estudo nrº1: O impacto do desenvolvimento na primeira infância sobre a aprendizagem. http://www.ncpi.org.br