A pessoa com doença crónica sofre inevitavelmente com a mudança na sua identidade pessoal, pois muitas áreas da sua vida são afetadas, falamos do contexto familiar, social, relacional e bem-estar geral.
Quando falamos de identidade estamos sobretudo a referirmo-nos à identidade pessoal que tem como definição a “compreensão que cada um faz de si, incluindo as suas habilidades, valores, posição social, sentido de vida e impacto nos outros”. Estamos a falar de um processo de mudança que implica uma reconstrução do sentido de pessoa e do Eu.
Um outro problema associado com a doença crónica é o desenvolvimento de uma doença mental, muitas vezes mal compreendida e que resulta de um conjunto de modificações físicas e emocionais que são forçadas a ocorrer. A pessoa com doença crónica sente-se muitas vezes perdida em si mesma, como se ela própria não fosse capaz de rever-se no seu corpo ou no seu estado em geral.
Fisicamente observa-se com grande incidência a falta ou perda de energia que obriga por sua vez à mudança de rotina. Os cuidados médicos, como as deslocações para tratamentos e consultas, obriga igualmente a uma restruturação do sistema, das prioridades e das rotinas pessoal, familiar e social.
A identidade de cada pessoa é um conceito multidimensional construído ao longo da vida e por isso considera-se que nunca esteja finalizada. Ela é pois, formada pela interação com o outro e engloba a história passada, o presente e aquilo que se projeta para o futuro, assim como a esfera individual, profissional, familiar e social. No entanto, a identidade é algo que está intrinsecamente ligado à autoimagem, à autoestima, ao autoconceito, todos eles, critérios que se redefinem com o aparecimento de uma doença crónica.
Como a doença crónica afeta a nossa identidade?
Qualquer que seja a doença ela afeta necessariamente o estado geral da pessoa. Na doença crónica o impacto que tem na vida de cada pessoa é «brutal». O processo de mudança é do ponto de vista físico e emocional muito exigente, afetando e influenciando a identidade da própria pessoa que se vê confrontada com uma situação imprevisível.
A reorganização exigida envolve não só a sua própria aceitação, de um novo Eu, bem como a exigência para lidar com um conjunto de alterações, nomeadamente: alteração no ritmo e rotina das suas atividades diárias, passando de uma vida ativa para uma vida passiva ou a um ritmo mais baixo; observa-se uma gradual perda da capacidade física, um aumento da dependência em relação a terceiros sendo este um aspeto muito angustiante; mudanças do humor e da disponibilidade emocional em geral; mudanças na sua autoimagem; mudanças na autoestima e, no seu papel social principalmente no que toca à perda de atividades relacionadas com os seus diferentes papéis sociais como o trabalho, o lazer, as relações íntimas e familiares.
Ao longo do tempo em que a pessoa se começa a confrontar com a sua nova realidade, observa-se com naturalidade, a alteração da perceção que a pessoa tem de si mesma, isto é, do seu valor enquanto pessoa e enquanto homem ou mulher, levando-a a questionar sobre as suas capacidades. É pois, devido a esta nova reconstrução do Eu que a saúde mental pode ser afetada, verificando-se o aumento do risco para o desenvolvimento de perturbações mentais.
São vários os sentimentos provocados por uma doença crónica, em particular:
Sentimento de perda – perda de si mesmo, perda do seu Self (aquilo que define a pessoa, a representação de ti, o seu Eu), perda da sua qualidade de vida e da motivação para as atividades, perda de autoestima, da independência, da aparência física e autoimagem. Perda muitas vezes das relações de proximidade e de afeto como no caso das relações entre parceiros, família e papéis sociais, falta de energia e adesão a um possível plano terapêutico que ocupa grande parte do tempo, modificando os hábitos de rotina diários que se davam no passado.
Sentimento de estranheza – um “outro Eu”, um corpo que se altera devido à doença, que se fragiliza e que aparenta um “corpo estranho”, perdendo-se assim a própria identidade de corpo e de pessoa.
Sentimento de luta para recuperar o passado – os sentimentos de insegurança e luta constante para reaver a normalidade e assim voltar à rotina e às ligações sociais.
Sentimento de isolamento – perda sobretudo dessas ligações com os outros, entendendo que se perdeu igualmente a capacidade para estar com o outro. A pessoa não se sentindo ela própria, sente-se incapaz e infeliz na interação com os outros. Existe um medo de apresentação pública que está muito dependente da reação dos outros à pessoa.
“Os sonhos, os planos, os objetivos e até a longevidade estão constantemente sob ameaça” (Raquel, H. citando Henriques, 2015)
A necessidade de des-res-construção da Identidade
O contexto assume um relevo quanto ao modo como a pessoa vai gerir esta mudança na sua vida, podendo funcionar como facilitador ou bloqueador, dependendo do modo como vai contribuir para que a pessoa seja capaz de se reconstruir ou não.
A pessoa pode procurar entrar novamente em equilíbrio e para isso podem contribuir as diferentes pessoas à sua volta, como o caso da família e dos amigos, porém se estes não tiverem disponíveis para aceitar a nova identidade da pessoa, o processo pode tornar-se muito exigente podendo colocar em causa a capacidade para gerir a doença e esta nova condição de existência.
Se precisa de aconselhamento ou apoio sobre como ajudar a pessoa com doença crónica por favor entre em contato:
Filomena Conceição
Psicóloga
965647475 ou fpfconceicao@gmail.com