Nos últimos 30 anos, tem-se verificado um aumento significativo dos comportamentos de automutilação que são definidos como o ato de realizar cortes superficiais na própria pele com recurso a objetos afiados, como x-atos, facas, lâminas de barbear, vidro e metal.
Os comportamentos de automutilação têm o seu aparecimento na fase da adolescência e podem manter-se por um curto espaço de tempo, derivados muitas vezes, à curiosidade ou por pressão dos seus pares. Pode também prolongar-se no tempo e manter-se pela vida adulta.
Os comportamentos autolesivos como é o caso da automutilação, não assumem uma tentativa de provocar a morte, mas sim, servem como recurso à expressão do sofrimento sentido pela pessoa. Verifica-se uma ligação intensa entre o corpo e esse mesmo sofrimento.
Os cortes que são infligidos na pele são realizados estrategicamente em locais de difícil acesso, braços, coxas, barriga o que permite passar despercebido aos pais por longos períodos de tempo. Na fase da adolescência eles facilmente são encobertos pelo uso de roupa larga, camisolas e calças, mas sobretudo pelo fato do adolescente não demonstrar angustia ou inquietação face ao seu comportamento. Por norma, essa angustia só se desencadeia após algum adulto descobrir e manifestar clara preocupação sobre o sucedido. Caso contrário, poder-se-ão passar meses até que seja dado um primeiro “deslize”.
Outro aspeto que importa salientar, relaciona-se com a atitude do próprio adolescente que parece lidar com a situação de forma natural, não fazendo qualquer observação sobre a dor que sente quando se corta. Inversamente, tem tendência para manifestar um certo grau de alívio da sua dor emocional cada vez que se fere fisicamente.
Porque é que alguém se corta?
A tensão que o adolescente sente é tão forte e tão dolorosa, tão difícil de o relatar por palavras que existe um ato de libertação que só é conseguida quando existe uma dor física maior do que a dor emocional.
“Trata-se, portanto, de uma dor que não encontra expressão pela via das palavras” In Automutilação na Adolescência – Rasuras na experiência de alteridade de Fortes, I. & Macedo, M., 2017.
Como se sentem?
Os adolescentes sentem sobretudo que não existe outro-alguém, que se preocupe e que tenha disponibilidade para os ouvir, levando-os a sentir-se isolados. O comportamento por se tornar cada vez mais compulsivo, leva por vezes à vergonha e à necessidade de o esconder dos outros.
“Quando eu termino de me cortar, a angústia depois de um tempo volta, mas vale a pena, pelo sentimento de alívio, nem que seja somente por cinco minutos” Monster, 2012.
O que fazer?
É importante compreender que enquanto pai ou mãe o mais importante é apoiar o adolescente. Não adianta aplicar sermões do porquê de terem escondido o que se estava a passar. Mais importante será ter uma atitude compreensiva, demonstrar apoio e procurar ajuda especializada.
Um jovem em sofrimento pode ser sobretudo uma “bomba relógio”, pelo fato de estar num turbilhão de sentimentos e ideias a pairar nos seus pensamentos. A dor intensa provoca cada vez mais o seu isolamento. Pressionar demasiado pode fazer com que o jovem se feche cada vez mais e não é isso que se pretende.
Quer-se sobretudo que o adolescente seja capaz de receber ajuda e que esteja disponível para tentar a mudança. Aceite e reconheça que existirá um adulto competente e interessado na sua angústia, na sua dor e que consigo poderá ajudar a ultrapassar os sentimentos que o apoquentam.
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