No final de janeiro deste ano saiu uma notícia no jornal Expresso que dava conta de um estudo que está a ser desenvolvido no sentido de se medir o desgaste emocional sofrido pelos professores. Apesar de ainda não se saberem os resultados, pois só em junho do presente ano é que teremos acesso, a verdade é que é visível o burnout generalista na grande maioria das escolas públicas.
A investigadora Raquel Varela da Universidade Nova (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas) afirma “Estamos a assistir a um adoecimento inédito dos professores nas últimas quatro décadas”. Muito se tem ouvido dizer entre a desmotivação, o desgaste, a dificuldade de gestão de conflitos no contexto escolar que ocorre não só com os alunos, mas igualmente com os colegas de trabalho.
Algo que tenho vindo a observar, é que de fato, as escolas que mantém os seus quadros de professores mais estáveis, gerem melhor os conflitos e a dinâmica do espaço. Logo manifestam um sentimento de pertença mais forte à estrutura do equipamento escolar, parecendo estar aqui um fator importante de proteção dos próprios professores.
Ora, também muito se tem falado sobre a autonomia e a flexibilidade curricular que passará a ser obrigatória para o ano letivo que ai se aproxima. Muitos são os projetos que já se encontram em vigor ou os que estão a ser à data construídos, tornando tudo num gigantesco “saco de boas práticas”. Contudo, se formos olhar com detalhe, sim os projetos funcionam e até apresentam resultados bastante satisfatórios mas para contextos muito específicos, o que me leva a cruzar com a ideia dos professores em estado de exaustão mental (burnout).
Recentemente, num dos encontros dos quais estive presente em que envolvia diretores de agrupamentos de escolas, escolas superiores e parceiros estratégicos, um dos elementos colocou uma questão que nos fará a todos certamente refletir um pouco, que passa pelo seguinte:
Os miúdos (alunos) têm que estar vinculados a alguma coisa, eles precisam de sentir que pertencem a algo (tal como os professores). Se os alunos não se sentirem vinculados às pessoas, neste caso aos professores, corremos o risco de não se sentirem “pertencentes a lado nenhum”, uma espécie de vazio, manifestando sentimentos de falta de orientação.
Os estudos europeus mais recentes sobre o diagnóstico do que está mal na escola, não trás nada de novo. Temos alunos desmotivados e perdidos, temos professores esgotados e desmotivados. Temos políticas educativas que privilegiam a formação indiferenciada, tentando formar alunos em pessoas numa espécie de linha de montagem, quando estamos todos fartos de saber que cada pessoa é singular, única e dotada de competências específicas que são desenvolvidas tendo por base todo um sistema interno e externo (conta a parte biológica, a parte emocional, a parte social, a parte física, a parte económica e por ai fora…).
Mas nesta lógica de raciocínio…não estarão igualmente os alunos esgotados de tudo e de todos? Temos alunos fartos de professores e professores fartos de alunos. Uma das professoras formadoras de professores partilhava: quando temos aprendizes a professor que se dizem incapazes de lecionar no ensino publico porque não estão para lidar com alunos problemáticos, estamos perante um problema de competência. Isto é, talvez devêssemos pensar também na importância que será definir um perfil de professor, já que em tantas profissões isso tem sido debatido.
Existem professores que simplesmente manifestam menos aptidão para lecionar por mais que afirmem ser uma paixão. Não podemos generalizar, como é óbvio, mas os alunos não podem escolher ser não-aluno (pelo menos até aos 18 anos), mas os professores podem escolher ser não-professores. Não estou com isto a colocar as culpas a “uns” ou a “outros”, pois fazemos todos parte do mesmo sistema: professores, alunos e pais.
No entanto, todos nós temos uma coisa em comum, é que em momentos diferentes das nossas vidas já assumimos os 3 papeis, quer gostemos disso ou não: costumo dizer que seremos sempre eternos aprendizes porque a vida assim o exige. Somos por isso também professores, pois transmitimos valores e cultura. Por outro, também temos filhos, pois se educamos, devemos sentir que existe vínculo. Se existe vínculo é uma ligação emocional e não somente física, idêntica a uma relação entre pais e filhos.
Sim os professores, em linhas gerais estão desmotivados, mas não estão desmotivados só de agora. Os alunos também estão em estado de “burnout”. A grande maioria receia ficar no desemprego e coloca em questão a importância da escolaridade, quando possuem muitos exemplos de adultos que apesar de terem estudado estão desempregados e em situações muito delicadas.
O que é a Síndrome de “Burnout” ou Desgaste Emocional no Contexto de Trabalho?
A síndrome de “burnout” assenta em 3 pressupostos: o desgaste emocional ou exaustão emocional, a despersonalização e a baixa realização profissional.
A exaustão emocional refere-se ao sentimento de falta de energia, entusiasmo e esgotamentos dos recursos psicológicos e emocionais para lidar com problemas ou conflitos laborais. Os profissionais não conseguem atender os seus clientes com a clareza que faziam antes, não conseguem definir prioridades nas tarefas ou apresentam dificuldade em manter um equilíbrio emocional adequado no seu contexto de trabalho.
A despersonalização refere-se ao modo como o profissional passa a tratar o outro, entenda-se o outro como o colega, o aluno ou a escola/entidade ao qual está filiado. Este outro passa a assumir o lugar de um objeto, desprovido de sentimentos ou características e por isso tratado com insensibilidade.
A baixa realização, implica que o professor se autoavalie constantemente manifestando uma perceção de si mesmo como negativa. Existe um sentimento de fracasso e incapacidade elevado, levando a sentimentos de infelicidade e incapacidade constante, podendo mesmo acreditar que a sua carreira profissional é um fracasso.
Antes de apontar o dedo, devemos tentar em conjunto unir esforços, definindo estratégias que possam ajudar a melhorar o estado emocional dos professores e dos alunos em particular e do sistema educativo em geral.
A educação precisa de professores motivados e dotados de ferramentas que os ajudem a superar os desafios diários da profissão.
Caso pretenda realizar um despiste sobre o seu desgaste emocional totalmente gratuito entre em contato.
Veja aqui a noticia do Jornal Expresso.