Se está a ler este artigo é porque está online! Estar online não significa porém que estamos a utilizar as redes sociais. Basta ter um smartphone ou tablet e estamos online mesmo que não queiramos. Porquê? Porque a internet está sempre ligada e as notificações a aparecer no ecrã. O seu perfil do facebook, do twitter ou do instagram está a receber e a partilhar informação. Recebe os posts dos outros e partilha a informação que se encontra disponível no seu perfil.
Uma coisa é certa, a dependência por estar online é quase ela generalizada. Se repararmos nos transportes públicos há uns anos atrás, as pessoas conversavam e existia de fato barulho, um barulho diria que normal, fase ao número de pessoas por metro quadrado. Hoje em dia o que se ouve é simplesmente silêncio. Quase todos, salvo raras exceções, estão de cabeça para baixo a olhar para o ecrã do seu smartphone ou tablet. Nas ruas quase não se observam pessoas com jornais ou revistas na mão, quase tudo passou a estar disponível no mundo digital, o que veio facilitar e muito, algumas ações.
Em 2014 um estudo realizado pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), indicava que mais de 70% dos jovens estavam “presos online”, desses 70%, 13% manifestavam ser casos muito graves, fazendo com que os jovens chegassem ao isolamento social e alterações de comportamento, tornando-os mais agressivos e com maior taxa de ansiedade. Este estudo incidiu em quase 900 jovens portugueses com idade entre os 14 e os 25 anos.
No artigo do jornal Público sobre este tema pode ler-se “Alguns adolescentes deixam para trás um percurso académico de bom nível para se fecharem no quarto a jogar computador dia e noite. Há amizades de infância que são postas de lado em detrimento do contacto online. O isolamento em relação à família, as mudanças de comportamento, os casos de violência inexplicável face ao insucesso num jogo digital ou à proibição de continuar ligado são outros comportamentos comuns.”
Para os jovens a questão é meramente inversa, se pensarmos de um outro ângulo…eles estão verdadeiramente offline do mundo que os rodeia! Não falam, fazem like! Não conversam utilizando a sua voz, e os que o fazem, fazem-no porque estão a jogar online com alguém que consideram amigo, mas que não conhecem, nunca estiveram juntos, desconhecem os seus gostos, por vezes até a idade.
Eles utilizam os seus dedos e comunicam muito rapidamente, mas não sabem procurar uma informação credível. Aceitam tudo aquilo que vêm ou ouvem pela internet, perderam sentido crítico na construção do seu pensamento. Usam emojis e fotos que publicam por todo o lado, a sua vida privada afinal está muito mais exposta nas redes sociais, existe pouca privacidade do seu conteúdo. E é por vezes mais fácil saber onde os filhos estão, porque publicaram uma foto no instagram do que responderam à SMS do pai.
A história (verdadeira) do João e da Maria 
No outro dia, observei atentamente a história que a mãe Maria (nome fictício) contava sobre o seu filho João (nome fictício) de 13 anos. A Maria queria que o João fosse tomar banho, mas o João que tinha chegado da escola estava estatelado no sofá da sala a discutir um assunto muito importante com um amigo, que é como quem diz, partilhar uns posts no instagram e whatsapp.
A Maria chamou por mais de uma vez e o João respondeu (a muito custo) dizendo que estava ocupado a falar com o Bernardo (nome fictício). A Maria chateada com a presunção do João, decidiu agarrar no seu smartphone e enviar uma mensagem pelo whatsapp a pedir ao João que fosse tomar banho para irem jantar. Resultado? O João respondeu á mãe “S”, levantou-se do sofá e foi… Moral da história: o João respondeu ao pedido da Maria via online.
Não estamos aqui a colocar a questão se está ou não correto, certamente muitas opiniões divergentes surgem. O que importa aqui é que a Maria resolveu utilizar com o João a mesma forma de comunicação e a verdade, resultou. Apesar dos nomes fictícios nesta história, a história em si é real. Tive a oportunidade de questionar a Maria sobre como se sentiu, esta relata ter sido surpreendida pela atitude do filho, mas talvez (risos) voltará a utilizar a mesma estratégia mais vezes, se de fato funcionar. Também houve oportunidade para conversar com o João sobre o seu comportamento. O João desvaloriza a sua atitude, expressando que ao receber a notificação da mensagem, recordou-se do pedido da mãe e fê-lo porque ela tinha pedido.
É importante começar desde cedo a perceber se os comportamentos dos nossos filhos estão ou não a ser alvos da geração offline.
Como identificar se o seu filho(a) sofre de dependência online, alguns sinais segundo a investigadora Ivone Patrão (ISPA, 2014):
- Grau elevado de importância conferido ao computador ou aos dispositivos móveis
- Sintomas de tolerância face ao uso
- Sintomas de abstinência face ao não uso
- Irritabilidade
- Dores de cabeça
- Grande agitação motora
- Comportamentos por vezes agressivos
- Em casos extremos, recaída face às tentativas sucessivas para parar.
O que pode fazer para ajudar o seu filho(a):
Em casos em que não se verificam todos os critérios descritos anteriormente, mas observa-se contudo, alguns pontos é importante começar por atuar cedo para reverter o quanto antes a situação. Quando falo em reverter, estou a falar em prevenção e não em castigo severo, confronto direto ou algo que seja levado ao extremo. Os jovens devem usar a internet, os smarthpones, portáteis ou tablet, a questão aqui é somente porque queremos que o façam em tempo moderado e compreendam a importância de levantar a sua cabeça e olharem para o mundo à sua volta, pois em caso contrário estão a perder o seu tempo de vida.
É importante envolver o jovem em atividades extracurriculares, manter o tempo ocupado sem que exista acesso fácil ao wifi. Importa que as atividades sejam prazerosas para o próprio e que aconteçam com regularidade.
Ter rotinas em família que promovam o diálogo e a partilha também é fundamental.
Não nos podemos esquecer que somos o exemplo. Se nós próprios passamos o tempo a verificar a caixa de email, também nós estamos dependentes e isso pode tornar-se muito difícil de gerir. Portanto, quando planear fazer atividades em família ou com os seus filhos, é para estar com eles dedicado a 100%, ouvir o que dizem e dar-lhes respostas que vão de encontro ao que desejam compreender.
Estabelecer regras em casa, algumas delas passam um pouco pelo conceito tido no passado na geração dos avós, contudo não deixam de ter uma certa razão de ser, por exemplo: Nas refeições ninguém atende chamadas e os telemóveis são colocados/deixados noutra divisão da casa. Poderão colocar a questão “pois, isso é muito giro de dizer mas eu nunca vou conseguir”. Sim, poderá ter dificuldade em faze-lo se desde sempre foi permitido usar o telemóvel quando se janta ou almoça no contexto casa. É o mesmo que acontece quando uma família vai almoçar ao restaurante no fim-de-semana e todos (literalmente, todos!) estão agarrados aos seus equipamentos. Não há diálogo, não há tema, não há ligação humana. Quando o bebe chora o que se lhe dá para a mão? O tablet ou o smartphone…que giro ela até já sabe desbloquear e carregar a aplicação para jogar.
Quando as crianças são mais pequenas é importante interagir com elas sem o recurso às tecnologias, uma brincadeira no parque infantil, com uma bola, fazer um puzzle e montar um lego. Quando são mais crescidos, existem imensas atividades que se podem fazer, visitar exposições interativas, procurar parques de diversão. Hoje em dia existem muitos locais que estão abertos ao longo do dia que dinamizam festas de aniversário, mas também estão abertos fora desses horários e possibilitam tardes de diversão muito bem passadas. Ir ao cinema, ao teatro e brincar na rua, pode ser também uma boa opção, assim como visitar familiares e estar em contato com outros amigos da família, andar de bicicleta, trotinete ou fazer uma caminhada, em género caça ao tesouro pode ser muito divertido. Obviamente, poderá ser dispendioso em determinados momentos, são apenas algumas sugestões para que possa variar a sua rotina.
Devemos recordar: se queremos jovens comunicadores, e bem integrados socialmente, deve começar por nós mesmo a partilha dessa experiência.
Em última instância, poderá ser necessário ajuda profissional para trabalhar com a dinâmica da família ou com o jovem em particular.
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