A criança precisa de muitas coisas para ser feliz principalmente de amor, família, respeito, educação, saúde, no entanto por vezes esquecemo-nos de incluir o brincar.
Na declaração universal dos direitos da criança datada de 1959 pode ler-se que à criança deve ser dada oportunidade de contacto com o mundo à sua volta, ela deve ser livre para brincar e para descobrir. Brincar ajuda a criança a ser imaginativa, a criar e a imitar situações que já vivenciou, interiorizar regras e a assimilar padrões culturais. Brincar também é cultura. Brincar ajuda a desenvolver as suas capacidades, aprender a lidar com frustrações e a gerir stress.
As crianças aprendem imensas coisas enquanto brincam, no fundo o que quero dizer é que, elas conseguem através da sua própria brincadeira, aprender o que nunca ninguém foi capaz de ensinar, aprendem a lidar com o mundo simbólico cheio de significados e valores. Por outro lado, brincar é extremamente útil para gastar as energias, aprender a lidar com situações próximas da vida real, ajuda a entender a ultrapassar frustrações e a lidar com os outros.
A função simbólica do brincar é muito importante, pois é ela que faz a ponte entre a experiência concreta e o pensamento abstrato. Enquanto a criança brinca, utiliza objetos concretos (existem, são reais), mas que simbolizam outra coisa, algo que a criança experienciou direta ou indiretamente. O brincar dá forma ao mundo interno da criança, isto é as experiências emocionais da criança são projetadas para as brincadeiras e para a maneira como a criança manipula objetos enquanto brinca.
Existem diferenças entre meninos e meninas?
Bom, esta é uma questão delicada. Culturalmente, associamos bonecas, objetos de cozinha, costura, alimentos, vestuário às meninas. Aos meninos, carros, pistolas, bolas. Mas essa identificação surge porque somos nós que definimos “a regra”.
Quando uma criança nasce, tendencialmente o azul é simbólico de menino e o cor-de-rosa associado à menina. Não esperamos ver um bebe menino de cor-de-rosa e vice-versa. Também não esperamos que o primeiro brinquedo de um rapaz seja uma boneca. Por isso as crianças vão sendo educadas à semelhança das diferenças de género. Mas não há dúvidas quanto ao fato de existirem meninas que preferem bolas em vez de bonecas e rapazes que adoram vestir vestidos e brincar com as pinturas da mãe, do que brincar com os carrinhos pela sala. Alguns estudos tendem a correlacionar os brinquedos dados ás crianças com as tendências profissionais. Ao menino oferece-se um carro, pela profissão de mecânico estar associado ao homem e às meninas uma boneca como simbolismo do cuidar do outro e educação.
Existem no entanto, poucos estudos nesta área que permitam com clareza explicar as escolhas das crianças quanto aos objetos para brincar, embora se tenda a justificar que tem essencialmente a ver com a base genética e o desenvolvimento cerebral que ocorre entre meninos e meninas em timings ligeiramente diferentes.
Por vezes existem pais, que nos contam que os filhos meninos nunca gostaram de brincar com brinquedos de menino, por exemplo e que preferem a boneca da irmã. Não se esqueça que os papéis sociais têm mudado nos últimos anos e as tarefas são agora mais promovidas para ambos os sexos, com maior naturalidade. É natural que as crianças queiram experimentar o papel do sexo oposto, pois encontram-se numa fase de descoberta.
As brincadeiras dos meninos são em parte mais agressivas com empurrões corridas e competitividade. As meninas sentam-se no chão ou numa mesa e gostam de atividades mais calmas e construtivas. Atenção que isto não quer dizer que seja sempre assim, pois cada criança é estimulada a brincar com o que tem. Se nunca estimularmos determinadas brincadeiras numa fase precoce é natural que a criança ganhe alguma resistência para gostar dela.
Por este fato, a brincadeira está incluída na terapia com a criança. A ludoterapia, termo técnico para o efeito, é a técnica aplicada à criança em contexto de consulta. A criança expressa através da brincadeira as suas vivências, angustias, ansiedades, medos. Permite mais facilmente estabelecer relação e é extremamente importante para aceder ao que realmente importa. A criança quando ainda não tem capacidade para se expressar claramente utilizando as palavras, utiliza os objetos e o seu comportamento para nos dizer o que quer. Cabe ao profissional devidamente capacitado, analisar e interpretar o respetivo conteúdo da mensagem da brincadeira.
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