A Importância dos Pais no Processo Terapêutico da Criança

Quando um novo pedido de consulta psicológica com a criança surge, normalmente esse pedido chega pelos pais. Na grande maioria são as mães que têm a iniciativa de procurar essa ajuda. O pedido vem quase sempre acompanhado pelas queixas recorrentes no comportamento e dos relatos dos professores no contexto escolar. Os pais definem desde cedo a problemática: as crianças são agressivas, apresentam dificuldades de aprendizagem, são hiperativas e manifestam grande dificuldade na separação com o pai ou mãe quando o vão deixar à escola.

Os pais ao aperceberam-se de todas as dificuldades que têm com o filho e a entrarem numa espiral de desespero, começam por eles próprios, nos apresentar um conjunto de soluções ou possibilidades de tratamento. Muitas vezes, porque conhecem alguém que fez determinado acompanhamento, porque viram um programa na televisão ou simplesmente porque pesquisaram na internet.

É por isso tão importante escutar atentamente os pais, pois eles serão sempre uma fonte principal de informação. Consequentemente, os pais exercem a sua influência direta no processo terapêutico, desde o seu início, desenvolvimento e término.

A maioria dos pedidos acarreta consigo uma imensa ansiedade e desejo em ver o problema resolvido num curto espaço de tempo, passando em grande parte, por pedidos relacionados com a eliminação de sintomas instantâneo, desmistificar qual dos pais tem a culpa para o problema atual do filho(a), ou com a esperança que milagrosamente o psicólogo seja capaz de utilizar os seus grandes olhos que vêm tudo, para num piscar, traçar o diagnóstico, tratamento e cura para o “mal” da criança.

Sem se darem conta muitas vezes nas suas palavras, os pais transmitem o seu desejo inconsciente da criança ideal. Obviamente, o pedido da tal “cura” não vem dissociado da palavra “dor” dos pais. O comportamento da criança é em parte reflexo do ambiente familiar e das dinâmicas e rotinas entre os seus elementos. É por isso, tão importante a entrevista inicial com os pais, a colocação das questões certas e o esclarecimento detalhado da criança, a visão dos pais sobre o comportamento da criança nos diferentes contextos (casa, escola, lazer) e igualmente, a visão/opinião individual do pai e da mãe ou de outro elemento que esteja presente e acompanhe a família como um tio ou os avós.

Os pais podem ter olhares distintos sobre a sua criança

Às vezes, temos tendência a ignorar que os pais são na verdade duas pessoas adultas, e por isso podem ter olhares distintos sobre a sua criança, é natural que aconteça. Primeiro, porque todos nós temos uma opinião a dar e logo, essa opinião é muito personalizada, contendo a própria personalidade da pessoa que a transmite. Depois, porque todos nós temos formas diferentes de olhar sobre o mundo. Cada um de nós usa o seu próprio filtro para avaliar cada situação, não seria de estranhar que os pais pudessem ter por vezes opiniões divergentes. Um bom técnico terá essa destreza profissional para a seu tempo certo, recolher as informações individuais de cada um dos pais e canalizar a informação em prol de um trabalho conjunto que envolva a família e a criança.

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Nem sempre os pais estão de acordo quanto à decisão de terapia

Se um dos pais não concordar com a terapia ou pelo menos com a consulta inicial, isso pode ter um grande efeito de inibição na própria criança ao longo do processo terapêutico. Pode inclusive existir alguns desacordos entre os pais que contaminem o comportamento “normal” da criança. Quando defino aqui “normal”, estou a definir a criança dentro da sua originalidade, com as suas características próprias, a sua forma de comunicar e se relacionar com os outros. Não a criança que nos chega confeccionada pela angústia dos pais.

Por vezes, a terapia chega mesmo a cessar devido a essa discordância entre os pais e a dificuldade que é exigida aos mesmos neste processo, pois implica que estejam ambos disponíveis para participar. Ainda que a participação não seja totalmente diretiva em todos os momentos, para a criança poder usufruir em pleno da terapia é necessário aos pais:

Disponibilidade para a entrevista inicial (partilhar informações pessoais e escolares acerca da relação com a criança no seu dia-a-dia, o seu desenvolvimento, questões e medos dos pais)

Disponibilidade de tempo (para levar e trazer a criança às consultas)

– Investir economicamente (no pagamento dos honorários e respetiva emissão de documentos se necessário)

Envolvimento dos Pais no Processo Terapêutico

É muito desconcertante para a criança chegar atrasa à consulta ou observar que a mãe e o pai discordam entre si sobre as consultas. É fato que este tema pode-se tornar central no seio da dinâmica familiar. Se por um lado, esse tema não deve ser tabu, isto é, deve ser abordado naturalmente com a criança, com a escola e com outros familiares e amigos, também não se deve utiliza-lo como justificação para o início de desacordos constante entre a mãe e o pai.

A criança precisa sentir-se segura e apoiada pelas suas principais figuras de referência regra geral, os pais.

Os pais sentem-se postos em causa

É verdade que nem sempre os pais aceitam que precisam de ajuda para ajudar o seu filho e isso causa-lhes sentimentos de inferioridade e incapacidade em relação à dificuldade em ter sucesso na relação e desenvolvimento da criança. Ainda que essa ideia seja muito pesada, importa esclarecer o seguinte, simplificando:

A criança é o resultado de múltiplos fatores e conjugação de ambientes. É o resultado de uma parte biológica e de uma parte psíquica que se constrói ao longo da vida. Os pais são as figuras que deram à luz a criança e por isso têm responsabilidade sobre ela nas condições que lhe propiciem e no afeto e amor que lhe possam transmitir. Mas não são responsáveis por tudo o que a criança é. Sim, podem influenciar drasticamente, mas em última instância os filhos são muito mais do que essa influência.

Existe um mito muito grande dos pais para com a figura do psicólogo, pois para eles o fato da criança poder contar-lhes algo, uma espécie de segredo entre a criança e o psicólogo, os pais têm muito medo que as crianças possam dizer algo que revele as suas fragilidades.

Volto a reforçar que a relação do psicólogo com a criança está abrangida pela confidencialidade assim como acontece com o adulto, portanto a criança é livre de explanar na sessão os seus anseios, opiniões, curiosidades.

Pais não se preocupem! O psicólogo é um profissional especializado com formação suficiente para saber compreender e analisar os conteúdos daquilo que a criança possa partilha em sessão, portanto não se sintam postos em causa.

Se quiser saber mais sobre os pais e os filhos e ainda não leu o meu artigo Os Pais Perfeitos Nāo Existem (e Filhos Sem Defeitos Também Nāo), convido-o a fazer.

Para colocação de questões e agendamento de consultas por favor clique aqui.

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