Quando os miúdos se relacionam entre si estão a partilhar direta e indiretamente informações. Para partilhar essas informações é necessário saber comunicar de forma verbal e não-verbal. O corpo também comunica, às vezes até mais do que as palavras.
Para os miúdos poderem comunicar entre si é exigido um conjunto complexo de competências. É preciso saber planear o tempo certo, esperar pela sua vez, saber e compreender as palavras, expressões e conceitos, saber depois interpretá-los segundo o contexto e ainda assim ser capaz de decifrar estados emocionais, como estar triste, estar contente, estar aborrecido, estar feliz.
As competências sociais não são inatas, ou seja, não nascem com a criança, elas devem ser aprendidas e desenvolvidas ao longo da fase infantil. As consequências dessa não aprendizagem podem ser “bloqueadoras” na vida adulta, influenciando a vida profissional e pessoal.
No caso das competências emocionais elas vêm no nosso repertório genético e são vitais. Elas são ativadas sempre que existe uma relação entre a pessoa e o contexto, pois são elas que nos permitem compreender como nos sentimos e como nos devemos autorregular perante determinada situação.
Importa ter em consideração que as emoções resultam de uma atuação do cérebro, logo uma igualmente complexa rede de ligações neuronais são ativadas cada vez que sentimos uma das cinco emoções básicas: raiva, medo, tristeza, alegria e repugnância.
A partir deste aspeto e na interação com os outros, vamos refinando as emoções e alargando o seu leque de atuação. As emoções são essenciais ao bom funcionamento da pessoa, são elas que nos permitem estar preparados corretamente para a ação. Por exemplo: se uma situação má é desencadeada eu vou sentir medo, preparando-me para agir (ativando aspetos fisiológicos do organismo) se tiver que correr para fugir. Se um miúdo não for capaz de interpretar corretamente a emoção no outro ou saber identificar corretamente o que sente, pode desencadear um conjunto de más interpretações e consequentemente uma relação inexistente ou deficitária.
Se pensa que os miúdos estabelecem relações simples, desencante-se, elas são muito complexas assim como são todas as relações humanas. Elas estão dependentes de diferentes fatores que se influenciam reciprocamente:
A duração: a duração de uma relação pode ser muito breve, breve ou longa.
A natureza: poderá ser uma relação afetiva e social, positiva ou negativa, de conflito ou agressão.
O contexto: a escola, a família, no lazer ou numa atividade social.
A intensidade: a relação poderá ser calma/tranquila ou forçada por uma das partes.
As características dos pares: as relações entre rapazes-rapazes, rapazes-raparigas, raparigas-raparigas são muito diferentes. A idade também será sempre uma característica a ter em conta, mas aqui estamos a falar essencialmente de relações entre pares (crianças com igual ou muito próxima faixa etária).
O estado emocional: a criança sentir-se calma ou encontrar-se agitada.
Aos 6 anos os miúdos juntam-se por grupos tendo em conta o género. As raparigas brincam com as raparigas e os rapazes com os rapazes. As raparigas gostam de brincar interagindo mutuamente, partilham e aceitam-se na brincadeira. Já os rapazes gostam de movimento e competitividade, jogos de poder para ver quem corre mais, quem salta mais.
Quanto maior for a capacidade dos miúdos para interagir com os pares de forma positiva e compreensiva, maior a aquisição a longo prazo de competências de respeito mutuo e respeito próprio. Os miúdos mais populares são por norma os que conseguem ser mais facilmente aceites pelo grupo, observando-se maior competência cognitiva, sociais e afetivas.
Não nos podemos esquecer obviamente, que existem miúdos populares pela negativa, normalmente são reconhecidos por estarem sistematicamente em conflito com os outros, ou prejudicarem negativamente a interação dos grupos, apresentando dificuldade na interpretação do contexto e das respetivas interações.
Vejamos o que acontece com diferentes competências relacionais:
Os miúdos bem-aceites:
Os miúdos que são mais bem aceites pelos outros, possuem também competências refinadas na compreensão emocional dos pares, são mais comunicativos e sociais. Apresentam capacidade de interpretar corretamente o contexto e planear eficazmente o momento certo para iniciar uma nova interação e mante-la.
Os miúdos postos-de-lado:
Os miúdos que apresentam lacunas nas suas competências sociais e emocionais, são por norma caracterizados por serem mais agressivos, conflituosos ou pouco convenientes, são os que têm pela lógica, grande dificuldade de planeamento da ação e consequente manutenção das relações sociais entre pares.
Estes miúdos manifestam não só dificuldades na esfera social e emocional, como na componente cognitiva que os leva a fazer avaliações desajustadas da realidade.
Muitos estudos têm levantado a questão da aquisição de competências sociais e emocionais, por se tornarem tão importantes na interação entre pares, elas colocam em causa o timing em que os miúdos aprendem essas competências. É sabido que é a família o primeiro contexto de socialização, então aqui a questão é saber se de fato as crianças com menor contato social e diversidade de interações, são as que na idade escolar aos 6 anos, são também as que manifestam maiores dificuldades. Défices nas competências sociais em particular e no processamento social das ações, parecem ser as maiores lacunas identificadas.
Outras questões se levantam quando aos poucos meses de idade entregamos ao bebe um smartphone para brincar em vez de comunicarmos com ele através de palavras e gestos. Os smartphone são bastante interativos mas a sua resposta passa a ser muito intuitiva, carrega-se em determinada zona e a resposta/estímulo é sempre igual. Após várias repetições é fácil ter o feito de previsibilidade bem controlado e dominado. Já nas relações entre duas pessoas é um leque muito mais diversificado e imprevisível de múltiplas respostas…pois como vimos depende de uma complexidade de fatores (duração, natureza, contexto, intensidade, características dos pares, estado emocional).
Como intervir?
Para os miúdos que manifestem dificuldades nas competências sociais e emocionais é possível trabalhar estes construtos através de planos de intervenção específicos, que envolvem um conjunto diversificado de ações lúdicas e de aprendizagem, como por exemplo o treino comportamental de habilidades sociais, treino de competências de resolução de problemas, treino de identificação das emoções, que envolvem atividades como musica, vídeos, jogos, leitura, puzzles, etc.
Se sente que o seu miúdo(a) tem dificuldades na relação com os pares e deseja saber o que pode fazer, ou tem alguma questão que queira colocar por favor clique aqui.