Montar móveis comprados na loja do IKEA pode ser muito divertido, porém se alguma coisa ficar mal encaixada ao início, pode estragar toda a alegria. Tal e qual como uma birra de uma criança, se conseguirmos fazer algo que resolva imediatamente a situação, sentimo-nos o suprassumo, caso contrário podemos ter um verdadeiro ataque de pânico.
Para montar um móvel do IKEA, começamos por perceber quais as peças a encaixar, e em princípio, vamos iniciar o processo seguindo os passos, passo-a-passo. Se a experiência for positiva, a probabilidade de repetirmos a experiência é grande. No entanto, por vezes pode tornar-se num verdadeiro quebra-cabeças!
No caso das birras das crianças, não queremos que se repitam várias vezes, por isso procuramos replicar os procedimentos que amigos ou livros nos transmitiram. O problema é, mesmo assim, uma missão aparentemente difícil.
Quando montamos o primeiro móvel, podemos sempre guardar as ferramentas que sobraram para uma nova compra. O problema é quando essa ferramenta só funciona com aquela versão e não com a próxima, o que equivale a começar a colecionar aquelas pequenas chaves curvas que são usadas para aparafusar.
Depois de se apanhar o jeito, montar móveis do IKEA tornasse numa tarefa aparentemente fácil, mas no início causa-nos algumas questões: será que vamos conseguir? E se for mesmo difícil, como vamos fazer? Será que tenho as ferramentas certas? (o martelo e a chave de fendas não estão incluídos no pack, mas ninguém avisa essa parte).
Com as birras das crianças as questões são semelhantes. Ao início podemos ter dificuldade em aceitar, compreender ou agir perante um comportamento que exija da nossa parte algum malabarismo comportamental. Quando nós próprios agimos de forma descontraída e equilibrada perante o problema, as birras passam a ser coisas naturais da vida e deixam de nos provocar ansiedade.
Para que servem as birras?
As birras têm por isso uma função reguladora, permitindo à criança conhecer o mundo. A criança ao fazer birra descobre e compreende os seus limites, inicia um processo de maior interpretação e assimilação de regras.
As birras não são todas iguais de criança para criança, porquê?
A Causa
As birras das crianças podem ter causas muito diferentes, podem começar pelo desconforto que a criança sente perante determinada situação, pode estar relacionada com cansaço ou pode servir para chamar a atenção. As birras são comportamentos funcionais e fazem parte do desenvolvimento salutar da criança. Porém, importa compreender que elas são um meio de aprendizagem vital e não devem ser desvalorizadas.
Existem muitas estratégias diferentes que se podem usar para tentar ajudar a criança a superar esse momento de frustração, desconforto ou medo. Contudo, não existem fórmulas mágicas e mesmo recorrendo a todas as informações, podemos sentir dificuldade em geri-las. Por vezes, as atitudes que tomámos no passado podem não funcionar no presente e, porquê? A mesma criança, momento, razão e contexto diferente.
A Idade
Não existe idade específica para a ocorrência das birras, embora se possa afirmar que elas têm um pico mais intenso e regular entre os 2 e os 4 anos. Aos 10 anos a birra também pode ocorrer mas não é expectável que dure muito tempo e que se observem comportamentos genéricos como gritar, atirar-se para o chão, chorar compulsivamente ou atirar objetos pelo ar. Na fase da adolescência e idade adulta as birras existem, mas manifestam-se com recurso a comportamentos diferentes, ficar frustrado ou amuar são exemplos disso.
A Duração
As birras podem ter variações de tempo muito diferentes. Podem ser intensas e curtas, ou mais ligeiras e duradouras. Não existe algo que possa verdadeiramente predizer o seu tempo de duração. Depende de muitas varáveis: contexto, período do dia, o que aconteceu antes e durante a birra, que atitude é que as pessoas tiveram quando a presenciaram.
A raiva e a angústia são duas das emoções que se sobrepõem na expressão das birras.
A Culpa
O sentimento de culpa é muitas vezes associado a esta problemática tendo em conta que os pais são os que se sentem mais culpabilizados. Sentimentos de frustração e questionamento da prestação de um bom papel parental são muitas vezes levantados nestes momentos críticos.
A Coerência de Atitudes
Cada adulto é singular na forma como se expressa, reage ou comunica. O fato dos pais reagirem de forma diferente à birra, pode fazer com que a criança tenda inconscientemente a processar essa informação. Se o pai reagir gritando e a mãe reagir dando afeto (ou vice-versa), é normal que a criança procure o afeto e não uma reação mais agressiva. Se os pais reagirem de formas muito diferenciadas em resposta a um estímulo, neste caso a birra da criança, pode tornar a situação mais caótica. Tornar-se-á confuso para a criança processar como se deve comportar, pois para um mesmo comportamento, existem respostas muito diferenciadas em relação à figura protetora, o adulto.
O mesmo acontece com os pais em relação a atitude de outros familiares, normalmente os avós. Por exemplo, se os pais não admitirem determinado comportamento da criança e a reprimirem, mas no caso dos avós for aceite, vai gerar na criança sentimentos de conflito interno o que poderá levar esta a sentir dificuldade em gerir as suas emoções, resultando num produto final de birra em maior proporção.
Dicas para contornar as birras e montar móveis com tranquilidade:
1)Manter a calma, embora seja um ponto extremamente difícil é bastante importante. Quanto mais nos descontrolarmos mais irritabilidade vai transmitir à criança, ficando esta ainda mais agitada.
2)Gritar com a criança, não vai fazer com que esta perceba verdadeiramente o que está a acontecer. O mais sensato que possamos fazer é tranquilamente, levar a criança a compreender que a birra é desnecessária. Ajudar a criança a acalmar-se, conversando e transmitindo-lhe segurança e compreensão ajudará a mesma a se auto regular.
Nota 1: Numa criança pequena até aos 2/3 anos (depende sempre da maturidade da criança), não faça grandes discursos. A criança simplesmente não estará preparada para compreender e reter toda a informação, tornando-se difusa e não obtendo o resultado que deseja. Frase simples, compreensão e afeto vão ajudar a superar mais facilmente o momento.
Nota 2: Em crianças com 5/6 anos (depende sempre da maturidade da criança), devemos ser figuras facilitadoras da compreensão das emoções, isto é, é importante ajudar a criança a identificar o que sente, se está triste, com raiva, etc. Colocar a criança num canto para pensar sobre o que aconteceu, não é solução. Pode até fazer com que a criança fique sossegada por alguns minutos, mas ela não vai ter capacidade suficiente para pensar sobre o que fez de errado estando sozinha. É necessário para fazer essa reflexão a comunicação e partilha com o adulto.
O mesmo acontece com crianças mais velhas. Elas terão certamente uma noção mais clara do seu comportamento, mas ela terão dificuldade em aceitar o que aconteceu se não forem estimuladas e ajudadas a falar sobre o assunto.
3)Depois de um “não”, não se volta atrás, um dos maiores erros cometidos é quando a criança, vence o adulto pelo cansaço. Quando após um “não” lhe é concedido o seu desejo, como forma de tentar que a birra passe, a verdade é que a birra dessa vez pode até passar, mas numa segunda vez a duração e a intensidade da birra irá aumentar. A criança terá então, ainda mais dificuldade em lidar com a resposta dada e mais dificuldade terá em compreender, pois existe uma resposta ambivalente por parte do adulto.
4)Bater ou ameaçar, mesmo sendo uma palmada ou uma ameaça estaremos a estimular a agressividade. Através da aprendizagem social a criança irá replicar o que presenciou por achar ser o mais correto, podendo tornar-se futuramente numa gestão difícil de contornar.
Por mais informações que retenha, não vai encontrar nenhum livro mágico ou estratégia perfeita. Existem algumas dicas úteis que podemos utilizar para minimizar o impacto causado, porém devemos estar conscientes que a birra faz parte do processo de desenvolvimento expectável de uma criança.
Pelo contrário, não fazer birra alguma, não questionar o mundo, pode ser um sinal de alerta.
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