Este até podia ser um artigo do psicólogo Eduardo Sá, mas não é. Embora acredite que muitas coisas que defende são inteiramente verdade e de tão transparentes que são mexem connosco, pois põem muitas vezes o “dedo na ferida”. Deixam-nos a pensar sobre nós próprios e aquilo que andamos a fazer com as crianças. Como este artigo não é sobre o Professor Eduardo, vou deixar essa discussão para depois.
Após o programa televisivo Supernanny, da qual não reconheço qualquer termo ético e, de alguns artigos de opinião de muitas revistas, autores, senhores e outros tantos sobre a mesma polémica, baseando-me igualmente na minha experiência on the field, posso dizer com verdade OS PAIS PERFEITOS NÃO EXISTEM e filhos sem defeitos também não, podem estar certos disso. Sim, existem pais que não tiraram o curso para serem pais (onde é que isso existe?). Sim, os filhos não vêm com manual de instruções (nem os nenucos…ou será que sim?). Por isso, desencantem-se os pais que se acham perfeitos.
Pais e filhos perfeitos não combinam. E porque não combinam? Ora bem, agora aqui é que vamos entrar na parte técnica:
O que é ser se pai/mãe?
É prestar afeto, proteção, suprir as necessidades básicas da criança, dar-lhe educação e faze-la tornar-se num cidadão do mundo, capaz de ser crítico, ativo na sua sociedade, que possa defender os seus direitos e construir um futuro em adulto. Os pais estão presentes nesse caminho (ou pelo menos deveriam estar, e os que estão, talvez às vezes precisassem estar mais tempo). Os pais também estão a crescer, embora em fases diferentes desse desenvolvimento, também eles estão a amadurecer as suas ideias e a escolher o melhor filtro para lidarem com o seu dia-a-dia, eles também têm medo, medo de falhar. Também os pais procuram felicidade, reconhecimento, procuram ter uma família, ser amados.
O que é ser se filho/filha?
É dar dores de cabeça aos pais. É ser imperfeito, não como os pais, mas ter a sua própria imperfeição perfeita. É questionar o mundo, é lutar por algo que se acredita. É ter medo. É querer ser reconhecido não só pelos pais, pelos amigos, pelos amigos dos amigos, pelos outros no instagram, no whatsapp, no facebook. É não saber se se gosta de alguma coisa. Não é ser igual aos pais, é ser diferente embora que possam aprender com eles.
O que é estar em família?
É ter zangas, é ter desacatos. É não saber onde está o comando da televisão, é discutir ao jantar. É ter diferentes opiniões sobre onde ir passear. É ficar em casa, cada um no seu smartphone ou tablet. É perder hoje em dia ligações pessoais e ganhar ligações wireless, mas isso tudo acontece aos nossos olhos.
Os pais perfeitos não existem e ainda bem. Ainda bem que os pais podem aprender com os filhos coisas maravilhosas da vida. Ainda bem que os filhos, podem ser filhos e fazer as suas birras. Mau é ser-se filho órfão, mau é os pais olharem para os seus filhos como perfeitos. Se eles forem perfeitos, por favor estranhem, pois isso pode ser sinal que alguma coisa está errada.
Muitas vezes e, principalmente na adolescência, existe uma certa tendência para achar que os filhos perfeitos, portanto, aqueles que não criticam, não fazem algumas asneiras e são sempre muito certinhos estão no caminho certo, pode ser muito tentador. Se os filhos não poderem explorar o mundo, agora que têm alguma proteção pelos pais, quando o vão fazer? Já reparou que existem muitos adultos que nos fazem lembrar os adolescentes? Talvez isso tenha algum sentido lógico por detrás do que se vê.
Quero deixar-vos uma ideia:
Não vos vou dizer para amarem mais os filhos, e os filhos amarem mais os pais, pois isso, cada um à sua maneira já o faz (embora com algumas lacunas, reconheço algumas delas).
Sejam pais sem medo de errar, pois vão errar muitas vezes ao longo da vossa aprendizagem enquanto educam o vosso filho ou filha. Vão se enervar, vão gritar e esperemos que fique por ai.
Cresçam juntos, admitam que não sabem tudo mas que estão libertos para ouvir os vossos filhos com atenção, pois é disso que eles precisam.
Estejam presentes nos momentos certos, mesmo que não consigam dizer as palavras certas, recordem-se do provérbio: um gesto vale mais do que mil palavras, e é puramente verdade.