O comportamento humano tem sido estudado por diversas décadas e existem muitas teorias para explicar um mesmo comportamento. Dessa análise, por vezes resultam observações mais objetivas do que outras. Quando nos encontramos em momento de stress e, principalmente se tivermos o azar de nos desentendermos com alguém, a probabilidade de passarmos a querer analisar todo o que é comportamento dessa pessoa tornasse viral.
É nos difícil manter um distanciamento saudável e acabamos contaminados pela vontade em ir, mais além, do que uma simples explicação banal. Sentimo-nos acusados, frustrados e por vezes com sentimentos de injustiça perante o outro. Passamos a ver o outro através da nossa ira e centrado naquilo que nos causou maior desconforto.
A mente e o comportamento humano são de fato fascinantes e podem muitas vezes levar-nos fatalmente ao erro.
O comportamento resulta de um conjunto diverso de interações com o mundo envolvente, compreendendo fatores intrínsecos e extrínsecos do ser humano. Entendemos como fatores intrínsecos o género, a personalidade, a genética, a idade, os traumas, as vivências e como fatores extrínsecos o papel social, a cultura, o contexto (entre outros).
Evidentemente, quando quase de forma obsessiva tentamos analisar o comportamento do outro e fazer uma rápida analise e conclusão estamos quase sempre (se não…sempre!) a deixar muitos fatores de fora. Não contamos com o contexto, com o momento, com o estado emocional e como aquela situação pode ser muito constrangedora para ambos. Limitamo-nos a fazer uma avaliação baseada em juízos de valor, que por norma associamos inconscientemente, às nossas experiências anteriores. É por isso que é muito fácil cairmos no erro de julgar os outros e sermos injustos com essa pessoa, pois olhamos para o todo, mas não para a soma das partes que o compõe (teoria da gestalt).
Por outras palavras, limitamo-nos a olhar para a situação tendo apenas acesso a uma parte da informação. Dois exemplos de gestalt, o que vê nesta imagem?
Consegue ver o gorila e a leoa em primeiro lugar? ou viu a árvore primeiro? e a seguir…o que vê primeiro?
Vê primeiro o perfil de duas pessoas que estão frente a frente? Ou o que vê primeiro ao olhar para a imagem é uma coluna central, que poderá ser a parte de baixo de uma mesa?
Somos geneticamente seres sociais, disso ninguém tem dúvida. Muitas ideias são levantadas tento por base esta premissa, tendo-se tornado banal até certo ponto. Contudo, importa lembrar que também é por essa razão que não conseguimos ficar insensíveis aos outros à nossa volta. A forma como se comportam, independentemente de aceitarmos, nos identificarmos ou não com isso, mexe connosco para o bem e para o mal.
Desde muito pequenos somos levados a compreender o mundo pelos comportamentos dos pais. Eles são a nossa base de socialização e de aprendizagem comportamental da sociedade e do mundo. Quando falo em pais incluo obviamente outros familiares, principalmente os avôs e os tios, as partilhas em casa, as rotinas diárias, os conflitos e a partilha de afetos.
Numa segunda linha de montagem e já em período de entrada escolar, iniciamos as práticas de contato com os pares, ou seja com outras crianças de idade idêntica ou muito próxima, vamos coletando ao longo do tempo bons e maus exemplos. Aqui começam as aprendizagens sociais, a partilha de bens comuns com outros concorrentes.
Na idade da pré-adolescência/adolescência, começam os sinais de diferenciação e identificação mais profunda. Começam a surgir os grupos de pares, os betinhos, os certinhos, os fitness, os nerds e a lista continua… Começamos a questionar o mundo e a vê-lo com outro filtro, desafiamos a verdade e a lógica. As nossas ideias mudam à velocidade da luz, pois somos bombardeados com pareceres distintos e em certa parte, convém agradar a gregos e a troianos para não ficarmos pelo caminho.
Por quase último, na era do adulto, aligeiramos a nossa tendência em aceitar o outro. Por sermos adultos consideramos que sabemos muitas coisas, o que nos leva a crer que temos uma bagagem suficiente (e experiência de terreno…mesmo que nunca, na verdade a tenhamos tido em concreto…mas lê-mos algo sobre isso algures e sentimos que sabemos muito mais sobre esse tema do que outras pessoas) para dar a nossa opinião (e avaliar!) todos os temas dos adultos.
Sentimo-nos confrontados quando alguém tem um ponto de vista diferente o que nos leva a crer que aquela pessoa “não pode de todo estar bem!”. Baseamo-nos em regra pela experiência pessoal, sem termos em linha de conta o filtro do outro, os tais fatores intrínsecos e extrínsecos e podemos até cometer erros terríveis, mas sempre prevalecerá a nossa opinião sincera.
Com a experiência, vem também a idade (e não o inverso).
Passamos a utilizar o tempo a nosso favor, somos mais sensatos a analisar o mundo e nem sempre expressamos um parecer concreto sobre algo. Não quero eu dizer com isto que sejamos sempre nesta fase justos, mas a experiência diz-nos que o melhor por vezes é deixar o tempo andar. O recurso ao passado longínquo é muitas vezes no presente, um recurso válido, mas mais uma vez baseamo-nos na nossa experiência pessoal para avaliar a situação.
Relembro:
Cada experiência de vida é única. Mesmo no caso de gémeos educados sobre os mesmos princípios, desenvolvem-se ligando-se ao mundo de forma diferente.
O que é diferente chama-nos à atenção e pode provocar (consoante a nossa experiência anterior) identificação ou afastamento.
O que é repetitivo, torna-se banal e pode deixar de fazer sentido a longo prazo.
O que provoca prazer, mantém-se vivo no tempo. O que provoca angústia, queremos esquecer.