Nunca fui ao espaço e não é uma coisa que diga que me tira o sono, mas confesso que pensar como seria viver lá em cima é algo que me ponho a pensar algumas vezes.
Aqui na terra estamos sempre acelerados com as nossas vidas. Dizemo-nos muito atentos aos pormenores mas há sempre algo que nos escapa. Não é por mal, mas simplesmente estamos formatados de forma diferente.
Lá em cima tudo tem de ser “perfeito”, pois se algo falha pode colocar em risco a própria pessoa e os outros tripulantes, se for esse o caso. Mas então aqui na terra? Não deveria ser igual?
Quando leio sobre como é exigente o treinamento para se ser astronauta e poder ir lá, para lá do céu azul, que se treinam anos sobre anos, que se simulam erros para que tudo seja o menos imprevisível possível, sabendo que esse dia pode nunca ocorrer.
O financiamento do projeto pode deixar de existir, isto é, ser canalizado para outro projeto, ou simplesmente ser cancelado. A vida daqueles que treinam para um dia subirem ao lado do céu negro, pode nunca chegar a acontecer, mas eles treinam diariamente para estarem 100% preparados para o improviso. E aqui na terra? Não deveríamos igualmente estar 100% focados nos nossos objetivos, pelo menos no da felicidade, eu diria. Se treinássemos para o erro e não para o sucesso, será que teríamos mais hipóteses de sobreviver ?
A ideia é esta:
Em vez de formatados para trabalhar para o sucesso, deveremos trabalhar para evitar/ultrapassar o erro, a dificuldade. Ao ultrapassar o erro, estamos sem dúvida a alimentar o sucesso com maior segurança. No fundo é o que os astronautas fazem.
Passam os seus dias em simuladores a aprender como ultrapassar contrariedades para poderem sobreviver, pois todos os segundos`(milésimos de segundo) contam lá em cima (e aqui na terra, será que também contam?).
Para além dos simuladores, passam muitas horas a estudar e a aprender formas novas de lidar com as dificuldades. Um astronauta deve ter muitas competências para além de saber o que fazer na sua área técnica, por exemplo: deve ser perito a arranjar uma sanita, pois acontece muitas vezes esse sistema falhar, e lá em cima não se pode chamar alguém para arranjar. Este e outros desafios, fazem com que haja a necessidade de se ser muito bom conhecedor de um conjunto de componentes que em primeira instância parecem até um pouco ridículas de encaixar com a ideia de estar no espaço.
E se cada oportunidade na terra não tivesse nunca uma segunda vez? Tal e qual como no espaço, cada erro pode matar com maior percentagem do que na terra.
As tecnologias têm avançado muitíssimo e nos dias de hoje a forma como as coisas são feitas permite um maior ajuste à realidade, no entanto não deixamos de ter emoções. Emoções essas que são a chave para o sucesso (ou para o desastre).
Aqui na terra temos tudo muito “à mão”, no espaço tal nem sempre acontece. É por isso que os astronautas treinam durante muitos e muitos anos mesmo sabendo que podem nunca ter a sorte de ir em viagem para o espaço, contudo, aplicam-se constantemente ate ao limite da perfeição para que nada falhe, se esse tal dia chegar. Eu diria que aqui na terra, estamos por vezes muito mal habituados.
Treinar todos os dias não só a area física, mas também a mental é a base para o sucesso.
A foto deste artigo demonstra o salto em queda livre de um astronauta que ocorreu em outubro de 2016.