Normalmente acreditamos que conseguimos ser muito bons a ver tudo e a ouvir tudo à nossa volta, porque nos sentimos alegres, motivados e concentrados, porém não é assim tão verdadeiro que isso aconteça. Porquê? Bom, isso também tem uma observação simples…nós andamos sempre na nossa “própria realidade”. Isso acontece porque o nosso cérebro é formatado para isso, coisas que nos são mais familiares são aquelas que ouvimos ou vemos melhor. Temos uma tendência natural para a reconhecer. Por exemplo, se gostar muito de futebol vai conseguir estar atento a tudo o que se passa sobre essa matéria. Se não gostar, e se tiver numa mesa com outras pessoas, esse tema vai provavelmente passar ao lado no que respeita os seus pormenores (dia do jogo, horário, adversário). Por outro lado, se for do seu interesse, saber sempre que relações amorosas os seus amigos estão envolvidos vai estar sempre com o seu “radar” predisposto para captar algum sinal nesse sentido. No entanto, se isso lhe for indiferente, o mais provável é não ver o que se passou mesmo ao seu lado.
Isso acontece, porque cada um de nós só consegue ver a sua própria realidade e aquilo que o seu cérebro foi habituado a percepcionar. Para mudar de hábito é necessário um treino intensivo para a mudança de comportamento e para que o comportamento mude, é necessário que o pensamento também se modifique. Mas será que queremos mesmo que ele mude?
Ao longo do nosso desenvolvimento vamos construindo a nossa realidade. Essa realidade, por sua vez, é uma combinação entre o que vamos adquirindo através dos padrões mentais e comportamentais dos demais à nossa volta: pais, avós, tios, amigos, vizinhos e por ai fora e, inevitavelmente, pelo nosso reportório genético e cultural, entre outros fatores como o ambiente e a escolaridade. Quando chegamos à fase adulta, “donos e senhores” da nossa própria vida, somos altamente capacitados (ou não) para construir o nosso próprio pensamento, fazer criticas, elogiar ou discutir com alguém. A nossa linguagem (verbal e não verbal) é um traço único de quem somos, uma espécie de impressão digital, o mesmo acontece com a nossa realidade. Parece um pouco estranha esta ideia, não é verdade?
Alguns de nós tornamos-nos bastante previsíveis em alguns momentos, mas igualmente imprevisíveis noutros. Pois bem, isso é o que o nosso cérebro fabrica, uma realidade própria sobre determinada pessoa, acontecimento ou problema. Ajustasse a ele, tendo em conta o referencial da sua própria realidade e parte do pressuposto que isso é uma logica infalível, o problema é que não é.
Muitas vezes, somos injustos com algumas pessoas, em determinadas situações, pois não somos capazes de analisar e interpretar outros padrões de pensamento. Se estamos sistematicamente a percecionar determinado padrão mental ou comportamental numa pessoa chegada a nós, é possível que o nosso cérebro se habitue a ele. Da próxima vez que pensar sobre isso, o seu cérebro não vai querer gastar essa energia e tempo precioso sabendo que o pode poupar e gastar em algo que pensa ser mais produtivo, acreditando que sabe exatamente como o seu amigo vai pensar e como se vai comportar perante determinada situação. O problema é que isso faz com que, mesmo numa conversa seria sobre outro problema, o seu cérebro vai-lhe informar que não vale a pena gastar esse tempo com o seu amigo, pois ele tem um padrão único de funcionamento, o problema amplifica-se quando estamos a percecionar o nosso amigo dentro da nossa realidade e não conseguimos ver o nosso amigo pela realidade dele, por isso não percebemos alguns dos seus comportamentos, atitudes ou dificuldade em ultrapassar o problema.
Agora imagine…10 pessoas, cada uma delas com um padrão de funcionamento diferente, cada uma delas com um padrão único de construção de realidade, sobre um mesmo problema para resolver. Existirão sempre pontos em comum, mas é mais provável que exista formas de resolução do problema que nunca pensou que pudesse ser considerada como uma resolução. Pois bem, essa é a parte mais interessante. Mesmo em discussão (entre as pessoas) é possível compreender vários padrões de pensamentos, portanto, várias realidades e visões sobre o mesmo problema…é aqui que entra a parte de sermos peritos em opinar sobre a resolução de problemas de terceiros, mas temos uma imensa dificuldade, por vezes, em chegar à resolução nos nossos próprios problemas. Aquilo que parece tão claro e simples a umas pessoas aparentasse demasiado complexo e difícil de compreender. O nosso cérebro é uma espécie de “todo o terreno” mas também tem falhas na hora de ultrapassar um obstáculo novo.
Da próxima vez que começar a ignorar alguma conversa com um amigo que tem um problema, tome atenção àquilo que não costuma ver, ouvir ou identificar e não se esqueça que ele estará a ver o problema à luz da sua realidade e não através da sua realidade. Tenha uma boa dose de compreensão e em vez de lhe dar as soluções (as suas), ajude-o a procurar as dele dentro do seu próprio padrão de comportamento. No futuro o seu amigo vai-lhe agradecer e você terá contribuído para o sentimento de bem-estar geral e controlo do seu amigo.