O lugar de uma criança na família é o coração dos pais. Eduardo Sá
O coração dos pais deveria ser sempre uma zona de conforto para os filhos. No meio de centenas de milhares de coisas, essa zona por vezes parece ficar mais gélida quando não foram criadas condições para o seu sucesso.
Falar de amor de pais para um filho, é falar de quem deseja o melhor para si, mesmo que a vida traga muitas amarguras. Como é que alguns, não são dotados das ferramentas certas para aceitar um filho? Porque o abandonam milhares de vezes, tantas as vezes que não é possível saber como começou. Abandono, não pode ser considerado só um. Quem abandona outro alguém, seja um filho, um pai, um amor, vai-o abandonando aos poucos, vai-se desleixando e desligando, muitas vezes fica no stand-by, até chegar a um dia que fica offline.
E quando se Adota ? Será que se adota somente uma vez ?
Segundo a Língua Portuguesa, Adotar significa a-do-tar, considerando-se como o conjugar de várias maneiras, Tomar por filho, Escolher e seguir, Perfilhar. Adotar será para muitos casais, o ato mais genuíno de querer amar um outro, cuidar, de assumir todas as responsabilidades e aceitar que se vai certamente errar. Mas o erro será sempre perdoado se acima de tudo estiver presente o superior interesse da criança. Será que adotar só se adota uma vez ? Quando amamos, quantas vezes adotamos em nós a outra pessoa? Quantas vezes adotamos os nossos amigos ? Adotar é mais do que uma simples palavra.
O que se espera de uma Adoção?
Espera-se que determinadas pessoas, em principio o(s) adotante(s) sejam geradores de amor, locomotivas da esperança, saibam transformar a tristeza e as desilusões e, promovam o pensamento.
O Tempo de espera...
Esperar 5, 8 ou 10 anos para adotar é aceitável ? Quantas vezes os futuros pais do coração imaginaram aquela criança a sorrir nos seus braços, os passeios no jardim, as idas à praia, as festas de aniversário, as compras do material escolar, a cor da parede. E o Benjamim ? Será que ele vai gostar de animais ? Não vai ter medo? Tantas imagens idealizadas para tudo se resumir a micro-segundos e triliões de pensamentos quando finalmente sentimos pelo olhar o primeiro contacto… “ali esta ele a brincar”.
Será que a mesma criança que imaginaram milhões de vezes é a mesma que brinca ali á vossa frente ? Certamente que será muito mais do que isso, se for tal como uma flor, cuidada todos os dias. Regada com amor, protegida da chuva e do calor em demasia, mas deixada ao toque da terra para que se sinta viva, possa crescer e sentir-se segura.
O Manuel, de cinco anos, perguntou aos pais que o adotaram com poucos meses, depois de dar conta da gravidez do irmão “Eu também andei na tua barriga?”…depois de alguns momentos de hesitação a mãe respondeu-lhe, “Não, tu andaste no coração…da mãe e do pai.” in Abandono e Adoção (2005).
Quem tem Medo?
Todos temos medo. Os pais têm medo. As crianças têm medo. As técnicas têm medo.
Uma criança não se sente amada só porque tem pais, mas quando lhe lêem nos olhos – mesmo quando lhes ralham – que são verdadeiros para com ela. Eduardo Sá.
As crianças adoptadas são diferentes ?
Sim. As crianças adoptadas são diferentes, pois guardam consigo todos os grandes medos que passaram. Todos os desencontros emocionais que tiveram de aprender a aceitar. Uma criança que não passou por isso é diferente. O mesmo acontecendo com outras coisas… se nunca teve um acidente de automóvel , se nunca passou por isso, o mais certo é que não consiga ter a noção clara do que se sente, do que se ouve ou se cheira, o medo, a angustia. A pessoa que passou por isso, saberá descrever melhor essa sensação. Talvez ate tenha ganho alguns medos. É natural. Se as duas pessoas passassem por esse episódio, teriam reações diferentes, comportar-se-iam de forma diferente, mas não deixariam de ter medo e de sentir a dor. Os pais de uma criança que se foi desencontrando com ela ao longo do abandono, faz com que a criança tenha ainda mais vontade de amar, mas obviamente mais receio de perder também. O mesmo acontece com os pais que adotam.
Os pais que adotam são diferentes dos outros pais.
Sim, são diferentes em certo ponto. O medo de perder aquilo que nunca tiveram tem outro sabor. Um sabor de quem nunca saboreou. Mas o amor é sempre amor.
A adoção de uma criança, é tão reparadora para a criança como o é para os pais.
FC.